O diretor Marco Bellocchio esteve no Brasil em outubro acompanhando a 40ª Mostra de São Paulo, evento do qual foi homenageado e que exibiu um ciclo de seus filmes mais importantes. Aos 77 anos, o maior cineasta italiano da atualidade mostrou seus dois longas mais recentes: Sangue do meu sangue (2015), ainda em cartaz, e Belos sonhos (2016), que estreou nesta semana no circuito. Adaptação do romance autobiográfico Fai bei sogni, do escritor Massimo Gramellini – vice-diretor do jornal La Stampa –, Belos sonhos foi o título de abertura da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2016.
A história acompanha o personagem de Massimo da infância à maturidade, destacando como a misteriosa morte da mãe (Barbara Ronchi) mudou para sempre a vida e o caráter do garoto de nove anos (Nicolò Cabras). As lembranças do Massimo adulto (Valerio Mastandrea) de sua meninice em Turim na virada dos anos 1950 para os 1960, povoada de referências nostálgicas a programas de TV e jogos de futebol, são intercaladas por sua trajetória pessoal e profissional até a década de 1990 – quando se torna um jornalista esportivo famoso, depois de cobrir a guerra em Saravejo, de onde retornou sofrendo ataques de pânico. Enquanto se prepara para vender o apartamento dos pais, Massimo encara seu passado traumático, tentando entender a frieza do pai (Guido Caprino) e seu próprio retraimento emocional – confrontado só quando se apaixona pela bela médica Elisa (Bérénice Bejo).
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Ainda que temas caros à obra do realizador de filmes como De punhos cerrados (1965), Diabo no corpo (1986), Bom dia, noite (2003), Vincere (2009) e A bela que dorme (2012) estejam presentes também em Belos sonhos – uma visão crítica da sociedade e da política italianas, a questão da sexualidade, as relações dentro da família burguesa, a força do catolicismo –, Bellocchio parece ter ficado reverente demais ao original literário, economizando em suas inventivas soluções cinematográficas e deixando o ritmo narrativo um tanto lento.
BELOS SONHOS
De Marco Bellocchio
Drama, Itália/França, 2016, 130min.
Cotação: 4 de 5