Fugir para as montanhas é a saída de emergência idealizada por quem já não mais suporta a desfaçatez, as injustiças, as desigualdades, a violência, a intolerância, o consumismo e a corrupção que desafinam a harmonia da vida em sociedade. E, nestes tempos tão turbulentos, tomar esse rumo nunca pareceu tão aprazível. Em cartaz nos cinemas a partir de hoje, Capitão fantástico emula a busca pelo oásis de paz e tranquilidade na história de uma família que deixa para trás os confortos proporcionados por capital e consumo para se embrenhar no mato.
Ben (Viggo Mortensen) e Leslie (Trin Miller) buscam na qualidade de uma vida quase selvagem criar seus seis filhos sob um regime de educação peculiarmente ortodoxo para o corpo e a mente: disciplina militar nas tarefas confiadas e nos exercício físicos, rotina curricular pautada por avançados métodos pedagógicos, habilidade e destreza para buscar com as próprias mãos o almoço e o jantar, lições de defesa e saraus literários e musicais em volta da fogueira. E, acima de tudo, a noção de que todos são responsáveis pelo bem comum de todos.
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Abate-se um cervo na caçada matinal, escala-se um pico íngreme para manter a forma à tarde e discute-se livros de Nabokov e Dostoiévski antes de dormir. Parece uma experiência de vida perfeita, mas a trama com roteiro e direção de Matt Ross (mais conhecido por seu trabalho como ator na série Silicon Valley) tem seu motor dramático nas fissuras que convulsionam a utopia materializada pelos hippies temporãos para proteger a prole dos males do mundo.
Intelectuais abastados – ela é filha de um milionário –, Ben e Leslie criaram seu refúgio em uma região montanhosa do Estado de Washington, costa oeste dos Estados Unidos. Leslie, porém, retornou à vida urbana para um tratamento médico – sua presença na trama se dá pelos olhos e pelas lembranças dos outros. O protagonismo é de Ben, que se verá obrigado a voltar com os filhos para a cidade natal da mulher, onde terá como antagonista o influente sogro (Frank Langella) que deseja lhe tomar a guarda das crianças.
Lançado no Festival de Sundance e exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes deste ano, com boa recepção de crítica e público em ambos, Capitão fantástico perde um tanto de seu fôlego nesse segundo ato, em que drama e pitadas de humor se esgrimam para marcar o tom da narrativa. A graça buscada no contraste entre a "excêntrica" família de ermitões e seus parentes "normais" cumpre sua função no roteiro de forma previsível.
Indicado ao Globo de Ouro de melhor ator em filme dramático, Mortensen é o grande trunfo do filme com sua composição de urtigão idealista que se vê em crise diante da ameaça de ver seu paraíso ruir. O desafio de encontrar o ponto de equilíbrio entre as aspirações pessoais e a missão de ser um farol a iluminar os passos de um filho – que estimulado pelo livre-arbítrio pode ter outros planos para sua jornada – é, ao fim e ao cabo, a abordagem seminal de Capitão fantástico.
Lições de humanismo, desapego material e solidariedade elevam o filme em seus segmentos campestres. Pautam as conversas familiares sobre rasas e profundas questões existenciais e emolduram belas sequências como o ritual embalado por uma versão de Sweet child o'mine, do Guns N' Roses. Apontar a possibilidade de existir vida em um mundo menos tenebroso faz valer as boas intenções da história.
Capitão fantástico
De Matt Ross
Drama, EUA, 2016, 118min, 14 anos.
Estreia quinta-feira nos cinemas.
Cotação: bom
Onde ver nesta quinta
Cinemark Barra 8 (18h30, 21h15)
Espaço Itaú 3 (14h, 16h30, 21h30)
GNC Moinhos 1 (16h20, 19h, 21h20)
Guion Center 2 (14h30, 18h45, 21h)
Cinemark Barra 8 (18h30, 21h15)
Espaço Itaú 3 (14h, 16h30, 21h30)
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Guion Center 2 (14h30, 18h45, 21h)