Andréia Horta tem seu rosto conhecido do público desde 2006, quando ganhou um pequeno papel na minissérie da Globo JK. Dez anos depois, a atriz mineira alcançou aquele momento que costuma representar o ponto de virada na carreira. Foi um dos destaque da telenovela Liberdade, liberdade e, a partir de quinta-feira, poderá ser vista encarnando a cantora Elis Regina na cinebiografia Elis, em performance arrebatadora que lhe valeu, em meio à aclamação de crítica e público, o Kikito de melhor atriz do Festival de Gramado.
No começo do mês, Andreia, 33 anos, esteve em Porto Alegre para apresentar Elis à imprensa. Na conversa com jornalistas, falou sobre a emoção em conhecer o lugar onde a cantora gaúcha viveu e sobre como interpretá-la concretizou um sonho da adolescência, quando ouviu pela primeira vez e se apaixonou por Elis Regina.
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A voz que se ouve no filme é da Elis, mas sua interpretação física e emocional tira do espectador a impressão de se assistir a uma dublagem. Como foi sua preparação para o papel?
Começou três meses antes das filmagens, com três técnicos, sempre buscando a maior veracidade da performance. Um preparador cuidou da parte de canto, porque Elis tinha como característica o fôlego extraordinário. Teve a preparação corporal e a que foi voltada para a construção da personagem. Cantei muito, mas nem gravaram minha voz, não tem nenhum registro (risos). Teve um dia em que fiquei rouca depois de fazer, por várias vezes, Arrastão, o pot-pourri com Jair Rodrigues, que tem nove minutos, e ainda mais Fascinação. Elis era uma grande intérprete, o que facilitou o meu trabalho. Você escuta toda as palavras que ela canta, todas as sílabas, sua dicção é perfeita, e isso clareava o meu caminho. Eu queria ocupar Elis.
Qual era sua ligação com Elis Regina antes de interpretá-la?
A primeira música que escutei da Elis e me marcou foi No dia em que eu vim embora, que narra a história de uma pessoa que está saindo de casa. Quando li a biografia dela, vi muitas semelhanças com a minha história. Eu era uma jovem saindo de Juiz de Fora, com uma mão na frente e outra atrás para estudar Artes Cênicas em São Paulo. Comecei a escutar Elis e fui ficando fascinada pela maneira como ela foi abrindo caminhos com seu trabalho, como foi fiel às coisas em que acreditava, o seu temperamento reluzente, de quem vai sempre em frente. Quando conheci a casa dela no IAPI, entendi de onde a Elis queria ir embora.
Como entrou no projeto do filme?
Alguns anos atrás, li uma reportagem sobre o filme e quis dar um jeito de fazer parte dele, mas não conhecia ninguém envolvido. Até que um amigo me apresentou à (roteirista) Patrícia Andrade. Depois soube que ela disse ter sentido em mim um vento de Elis... Estava ainda tudo muito no começo, mas me encontrei com o Hugo (Prata, diretor) e, a cada reunião, a cada leitura do roteiro, eu ia entrando cada vez mais na história.
Você aproveitou essa visita a Porto Alegre para conhecer o apartamento em que Elis viveu no bairro IAPI? E qual foi a sensação?
Perguntei no caminho se a gente tinha conseguido autorização para entrar, e disseram que não tinham pensado nisso. Então falei: "Vou entrar de qualquer maneira" (risos). A porta estava aberta, porque tinha um moço pintando o apartamento. Foi arrebatador, porque os espaços guardam nossas energias, assim como o nosso corpo. Conheci uma vizinha que foi amiga de infância da Elis e ficamos conversando, ela me mostrou onde era o quarto da Elis. Foi lindo.