Conhecido por seu cinema de alta reflexão e baixo orçamento, o veterano realizador francês Paul Vecchiali está em cartaz na Capital com o melancólico e autoirônico O ignorante (2016). O filme é mais uma digressão sobre o amor e suas ilusões feita pelo diretor de Noites brancas no píer (2014) e É o amor (2015) – desta vez, a partir dos reencontros de um velho conquistador com algumas das paixões de sua vida.
Além do próprio Vecchiali como o don juan Rodolphe, o elenco inclui Pascal Cervo – presente nos outros filmes do cineasta citados – interpretando o filho do protagonista, além das participações do ator Mathieu Amalric e de uma plêiade de damas do passado recente do cinema francês. O destaque entre essas estrelas maduras é a eternamente bela Catherine Deneuve no papel de Marguerite, o grande amor perdido de Rodolphe. Zero Hora conversou com o artista de 86 anos.
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Entrevista com diretor Paul Vecchiali
Como você concebeu o roteiro de O ignorante?
Eu reencontrei, 70 anos depois de deixá-la, a "minha" Marguerite, que foi meu primeiro amor. Esse reencontro desencadeou a ideia do filme, mas o roteiro rapidamente descolou-se da realidade.
Você pensou em Catherine Deneuve quando escreveu o roteiro? E as outras atrizes, como você escolheu o elenco feminino?
Sim, pensei em Deneuve imediatamente. Primeiramente porque ela tinha uma certa semelhança com a minha inspiração e também porque me parecia importante que os espectadores identificassem logo esses personagens "episódicos" graças a seus passados cinematográficos. Isso serviu também para as outras atrizes e para Mathieu Amalric.
Você pode falar da importância de Pascal Cervo em seus filmes?
Eu encontrei Pascal Cervo nos filmes de Laurent Achard (diretor e roteirista francês), que é, na minha opinião, o melhor realizador da sua geração. Acontece que Pascal conhecia meu cinema e nós fizemos um primeiro teste com o filme Faux accords (dirigido por Vecchiali em 2014). Esse teste foi mais do que conclusivo e tentarei agora sempre trabalhar com ele. Ele é ao mesmo tempo flexível, disciplinado e livre.
Vocês fizeram muitos ensaios antes da filmagem?
Nós repetimos sobretudo o gestual, não tanto a encenação, porque prefiro uma primeira decisão espontânea, não "refletida". Mas antes nós fazíamos uma leitura sem encenação para ver se as palavras convinham aos atores.
Há sempre alguma coisa de autobiográfica em uma obra de arte. Há muito de Paul Vecchiali em O ignorante?
Não. Somente a lembrança desse grande e primeiro amor e também meus problemas com os funcionários do cinema: desajeitados, incompetentes, que passam seu tempo molestando pequenas empresas. Sem dúvida também meu amor pelas mulheres.
O que você acha do cinema de hoje, em particular da produção francesa?
Penso que, hoje em dia, não se vê nada além do "dinheiro", especialmente nos filmes americanos: luz única, montagem picada, sem escrita fílmica. Na França, perdemos o significado do sonho por tentar copiar uma certa realidade, obviamente falseada por diálogos incompreensíveis. Em suma, me sinto distante desse cinema de lá. Mas há cinemas "emergentes", com filmes interessantes: na Turquia, no Irã, por exemplo.
Quais são seus próximos projetos?
Eu tenho cinco projetos, mas alguns são caros, portanto difíceis de serem realizados! De imediato, vou sem dúvida filmar, em abril de 2017, dois filmes: Les sept déserteurs e Train de vies. O primeiro fala da guerra em geral, com um lado ligeiramente fantástico. O segundo é a história de uma mulher por meio de suas viagens até sua morte em um trem japonês. Teremos novamente Pascal Cervo, Astrid Adverbe, Marianne Basler e, talvez, Édith Scob.
O IGNORANTE
De Paul Vecchiali
Drama, França, 2015, 116min.
Em cartaz no Guion Center
Cotação: 4 de 5