Prêmio Especial do Júri no Festival de Havana e melhor filme no Festival de Huelva, A passageira (2014) marca a estreia na direção do peruano Salvador del Solar, ator que despontou por conta de sua atuação no elogiado filme Pantaleão e as visitadoras (2000). Em cartaz na Capital a partir desta semana, A passageira é uma coprodução entre Peru, Argentina e Espanha que foi indicada ao Goya de melhor filme ibero-americano e aos Prêmios Platino em cinco categorias.
A história começa mostrando a rotina de Harvey Magallanes (Damián Alcázar), um ex-militar que ganha a vida como taxista em Lima. O protagonista tem um cliente fixo, um oficial reformado (Federico Luppi) que foi seu comandante no combate à guerrilha na região de Ayacucho e agora está senil e preso a uma cadeira de rodas. A rotina monótona e cinza do motorista é sacudida quando um dia entra por acaso em seu carro uma mulher ligada a um episódio sombrio de seu passado sob às ordens do coronel, que no entanto não o reconhece. Magallanes passa então a vigiar Celina (Magaly Solier), dona de um humilde salão de beleza na periferia da capital peruana que está prestes a perder seu negócio para uma agiota por não conseguir pagar um empréstimo. Esse reencontro perturbador depois de 25 anos motivará o homem a colocar em prática um plano arriscado para ajudar Celina a arranjar dinheiro e assim redimir-se com a jovem.
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A trama de A passageira ganha densidade graças às interpretações do elenco, especialmente do trio central. O ótimo ator mexicano Damián Alcázar, conhecido por papéis em filmes como O crime do padre Amaro (2002) e na segunda temporada da série Narcos, destaca-se na construção de seu atormentado e amargurado anti-herói, enquanto o veterano astro argentino Federico Luppi – de A espinha do diabo (2001), Machuca (2004) e O labirinto do fauno (2006), entre diversos outros títulos – dá vida a um personagem rancoroso e silente lançando mão de recursos dramáticos econômicos.
Por fim, a bela atriz peruana de origem indígena Magaly Solier, que brilhou nos longas Madeinusa (2006) e A teta assustada (2009), é responsável por um dos melhores momentos de A passageira ao fazer um emocionado desabafo em língua quechua. A imagem do grupo de homens brancos escutando Celina sem entender o que ela diz, pasmos como virtualmente toda a plateia, já que o discurso não é traduzido nas legendas, é uma potente síntese das fraturas históricas do continente latino-americano e de suas muitas dívidas sociais para com os despossuídos, os povos nativos, as mulheres e as vítimas da violência do poder.
A PASSAGEIRA
De Salvador del Solar
Drama, Peru/Argentina/Espanha, 2014, 109min, 14 anos.
Em cartaz no Guion Center 2, às 15h20min e às 19h20min.
Cotação: 3 de 5