O filme O silêncio do céu (2016), que entra nesta quinta-feira em cartaz na Capital, começa de forma impactante: uma mulher, interpretada por Carolina Dieckmann, é estuprada dentro de casa por dois homens, que fogem depois. O episódio violento é em seguida exibido novamente – desta vez, sob o ponto de vista do marido da vítima, papel do ator argentino Leonardo Sbaraglia (do filme Relatos selvagens), que chega ao lar durante o ato, mas permanece estático do lado de fora, sem reação por conta de suas fobias. Diana não sabe que Mario assistiu à violação, nem conta ao companheiro a agressão que sofreu, enquanto Mario não revela a Diana que sabe de tudo – e o silêncio tenso entre o casal servirá de combustível para o desenrolar da trama que une thriller de suspense, drama e tragédia.
Eleito melhor filme brasileiro pelo júri da crítica no Festival de Cinema de Gramado e vencedor do Prêmio Especial do Júri na competição serrana, O silêncio do céu foi rodado em Montevidéu, é falado quase todo o tempo em espanhol e tem um elenco multinacional – que inclui a uruguaia Mirella Pascual, do filme Whisky (2014), e o argentino Chino Darín, filho do astro Ricardo Darín. O longa do diretor brasileiro Marco Dutra, no entanto, não é uma coprodução internacional: segundo Rodrigo Teixeira – produtor de filmes nacionais como O cheiro do ralo (2006) e dos americanos Frances Ha (2012) e A bruxa (2015) –, o trabalho foi rodado totalmente com dinheiro brasileiro.
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Na história de O silêncio do céu, Mario e Diana estão em meio a uma reconciliação quando acontece o estupro. De volta à confortável residência onde mora com a esposa brasileira e o casal de filhos pré-adolescentes, o uruguaio vai remoendo o traumático evento que testemunhou, ao mesmo tempo em que passa a perseguir os violadores de Diana – com quem mantém uma complexa relação de dependência emocional.
– É uma descida ao inferno moral dos personagens, a construção de uma degeneração da relação de um casal em um mundo em violência constante – resumiu o roteirista Caetano Gotardo na coletiva de imprensa do filme em Gramado.
Realizador dos aplaudidos filmes Trabalhar cansa (2011) e Quando eu era vivo (2014), o cineasta Marco Dutra imprimiu em O silêncio do céu um clima hitchcockiano, que evoca clássicos do mestre do suspense como Um corpo que cai (1958).
– Aprendi a ver cinema assistindo a filmes de gênero. Quando eu era criança, ia na locadora e adorava ver os filmes divididos em prateleiras: suspense, terror, ficção científica. Aquilo não era redutor para mim, era uma forma de classificar os filmes que eu queria ver ou não naquele dia. Quando se faz suspense, é inevitável usar a gramática estabelecida por Hitchcock – disse o diretor a Zero Hora.
Mais conhecida por seu trabalho na televisão, Carolina Dieckmann tem talvez a melhor interpretação de sua carreira em O silêncio do céu. A bela estrela dá conta de encarnar as nuanças de sua personagem, expressando suas angústias e julgamentos mais pelo olhar do que propriamente pelas palavras – durante praticamente todo o filme, aliás, Carolina fala em espanhol.
– A maneira como a Diana lida e se comporta com a agressão que sofreu é extremamente inquietante. Você nunca sabe exatamente o que ela está sentindo e o que quer passar. Para mim, como atriz, foi um personagem muito gostoso de fazer, muito bom de passear por suas emoções – contou Carolina, que mora atualmente em Miami, em entrevista a ZH.
Chino Darín, o filho do cara
Ricardo Mario Darín adotou o apelido Chino em seu nome artístico porque já existe um astro chamado Ricardo Darín: seu pai, há vários anos consagrado como o mais famoso e reverenciado rosto do cinema argentino, em casa e no mundo.
Aos 27 anos, Chino Darín é conhecido em seu país pelos trabalhos que faz na televisão desde 2010, quando estrelou a série Alguien que me quiera. Seu primeiro longa-metragem foi En fuera de juego (2011), que contou com uma ponta não creditada do pai – até aqui é a única produção de cinema com os Darín nos créditos. Além de Chino, o galã portenho é pai da cantora Clara, 22 anos, ambos frutos de seu casamento com Florencia Bas. Após desbravar o mercado brasileiro com O silêncio do céu, Chino será visto ainda em 2016 em La reina de España, produção dirigida pelo espanhol Fernando Trueba, que traz no elenco nomes como Penélope Cruz e Javier Cámara.
Por sua vez, Leonardo Sbaraglia, 46 anos, compatriota e parceiro de Chino no longa do brasileiro Marco Dutra, é um astro consagrado na Argentina com seus trabalhos no cinema e na TV. É conhecido no Brasil por filmes como O que os homens falam (2012) e por sua participação em um dos mais empolgantes episódios do sucesso Relatos selvagens (2014): o duelo dos motoristas surtados na estrada.
O SILÊNCIO DO CÉU
De Marco Dutra. Drama, Brasil, 2016, 100min, 14 anos.
Estreia nesta quinta nos cinemas.
Cotação: 4 de 5.