Vida longa e próspera. A saudação vulcana guia há 50 anos a saga de ficção científica Jornada nas estrelas, um dos maiores fenômenos da cultura pop – uniformizada pelo marketing do século 21 como Star trek. Criado por Gene Roddenberry, esse universo começou sua apaixonada relação com os fãs em 8 de setembro de 1966, com a estreia da série de TV, e se renova com o filme Star trek: Sem fronteiras, que cristaliza no cinema a muito bem-sucedida renovação da franquia.
Em cartaz a partir da próxima quinta-feira, Star trek: Sem fronteiras é o terceiro longa do projeto capitaneado pelo produtor e diretor J.J. Abrams, que assinou Star trek (2009) e Além da escuridão – Star trek (2013), e agora entregou o comando no set para o cineasta taiwanês Justin Lin. Cabe destacar que Abrams é também responsável pela revitalização de outra saga espacial muito estimada: Guerra nas estrelas/Star wars. A receita que deu certo em ambas as empreitadas pode ser resumida na dosagem equilibrada entre o respeito e a reverência à mitologia sedimentada no imaginário de diferentes gerações e os ajustes de rota necessários para embarcar novos seguidores na viagem.
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O êxito de Star trek ilustra a precisão dessa fórmula. Após diferentes expansões do universo de Roddenberry ao longo de décadas, Abrams trouxe de volta a tripulação clássica da Enterprise singrando as galáxias rumo a "onde nenhum homem jamais esteve". Para evitar comparações e choques com o que já foi visto e revisto na TV e no cinema, algo que os zelosos fãs não perdoariam, as novas aventuras se passam em um universo paralelo, recurso que proporciona liberdade aos roteiristas para até mesmo relembrar, em Além da escuridão, o antológico vilão Khan vivido por Ricardo Montalban na série original e no longa-metragem de 1982.
Veja o especial com curiosidades sobre o universo "Star trek"
Sem fronteiras acompanha o capitão James T. Kirk (Chris Pine), o oficial de ciências meio vulcano, meio humano Spock (Zachary Quinto), o médico Leonard McCoy (Karl Urban), o engenheiro Montgomery Scott (Simon Pegg), o piloto Hikaru Sulu (John Cho), o navegador Pavel Chekov (Anton Yelchin) e a oficial de comunicações Nyota Uhura (Zoë Saldaña) em uma missão de resgate que coloca a Enterprise em risco. A tripulação descobre tarde demais que caiu em uma armadilha de Krall (Idris Elba), um renegado que planeja sabotar com uma força destruidora o ideal de paz e harmonia defendido pela Federação Unida dos Planetas.
Este terceiro título da repaginada Star trek soma ao carisma e ao talento do elenco uma inventiva mistura dos ingredientes responsáveis pela contínua força da marca: ação, humor, suspense e efeitos visuais espetaculares a serviço de uma boa história.
Segue presente no DNA de Star trek a pioneira e visionária mensagem lançada por Roddenberry quando reuniu uma tripulação multiétnica e lançou em suas aventuras um apelo ao entendimento e à convivência pacífica entre diferentes raças das galáxias – numa época em que o mundo vivia sob as tensões da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã. Como os terráqueos não se emendam e seguem dando exemplos de ódio e intolerância, a utopia lançada por Roddenberry segue como uma missão a ser alcançada em algum tempo no futuro.
Sem fronteiras também mostra sua sintonia com as demandas humanitárias do momento apresentando, em uma cena breve mas muito representativa, Sulu como um homem assumidamente gay – assim como o ator que imortalizou o personagem, George Takei. E reserva ainda segmentos que devem levar o mais duro trekker às lágrimas, como o tributo prestado na trama ao ator Leonard Nimoy (1931 – 2015), o eterno Senhor Spock – nos créditos, é feita uma homenagem também a Anton Yelchin, que morreu tragicamente em junho passado.