O clima está quente na Serra – e não apenas por conta da temperatura, que, nesta sexta-feira, bordejou os 30°C e promete manter-se alta durante o final de semana. É que a abertura do 44º Festival de Cinema de Gramado foi com o filme brasileiro que tem suscitado debates acalorados na imprensa e nas redes sociais: Aquarius. Aplaudido no Festival de Cannes, quando os representantes dessa produção rodada em Recife manifestaram-se com cartazes contra o governo do presidente interino Michel Temer, o longa dirigido por Kleber Mendonça Filho foi exibido fora da competição.
O burburinho que agitava a cidade desde cedo foi canalizado no começo da noite de sexta-feira para uma avalanche de gritos e fotos no celular quando a equipe de Aquarius passou pelo tapete vermelho a caminho do Palácio dos Festivais, liderada pela grande estrela do primeiro dia de evento: Sonia Braga, cujo desfile pela passarela na Rua Coberta foi ilustrado por cenas de seus principais filmes, exibidos em monitores espalhados pelo trajeto. Protagonista do novo trabalho do premiado realizador de O som ao redor (2013), a atriz distribuiu sorrisos e mostrou-se simpática com os fãs que se acotovelavam na grade que separa o público do caminho de acesso ao cinema. Antes da sessão, Sonia foi homenageada com o Troféu Oscarito – a mais importante honraria do Festival de Gramado.
– Que homenagem linda! – agradeceu a intérprete, que já ganhou dois Kikitos na competição serrana: melhor atriz por Eu te amo (1981) e melhor atriz coadjuvante por Memórias póstumas (2001).
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Na plateia lotada – como há anos não se via na abertura do evento –, estavam dois personagens ligados à novela sobre a eventual escolha de Aquarius para representar o Brasil no Oscar de filme estrangeiro: o pernambucano Alfredo Bertini, secretário do Audiovisual e responsável pela comissão que vai apontar o candidato brasileiro nessa disputa, e o jornalista paulista Marcos Petrucelli, integrante do colegiado que criticou o longa de Kleber em suas redes sociais. A manifestação do crítico da rádio CBN repercutiu no meio cinematográfico, levando três cineastas a retirarem seus trabalhos da lista de postulantes a uma vaga no Oscar: Boi neon, de Gabriel Mascaro, Mãe só há uma, de Anna Muylaert, e Para minha amada morta, de Aly Muritiba. A polêmica também causou baixas dentro dessa comissão: o diretor e produtor Guilherme Fiúza Zenha e a atriz Ingra Lyberato anunciaram que abriram mão de participar dessa seleção.
– A gente está aqui em nome da cultura brasileira. Aquarius é uma das provas da beleza, da diversidade e da riqueza da nossa cultura. Então, a gente tem mais é que prestigiar, estou ansioso para ver o filme – disse a Zero Hora o ministro da Cultura, Marcelo Calero, também presente na abertura.
Dona flor e seus dois vadinhos
Bruno Barreto, que dirigiu Sonia Braga no clássico Dona Flor e seus dois maridos (1976), foi quem entregou o Troféu Oscarito à atriz.
– Sonia, se eu e o Kleber (Mendonça Filho) fôssemos seus dois maridos, quem seria o Vadinho? – provocou o cineasta.
– Acho que daí seria "Dona Flor e seus dois Vadinhos" – respondeu diplomaticamente a artista.
Na hora de apresentar seu filme no palco do Palácio dos Festivais, Kleber retribuiu o carinho:
– Há muitos anos Sonia Braga faz parte da minha vida. Reagiu de uma forma linda ao roteiro quando o enviei para ela. Além de uma ótima atriz, ganhei também uma amiga. Obrigado, Sonia, eu te amo.