O texto abaixo foi escrito por Giba Assis Brasil*, codiretor de Verdes anos com Carlos Gerbase, em 18 de julho de 1984. Portanto, dois meses após a estreia comercial do longa – que foi exibido, antes, no 12º Festival de Gramado, realizado em abril daquele ano.
– Já não sei mais o que escrever sobre o filme. Sentei, tentei umas três ou quatro abordagens diferentes, e sempre terminava em um texto que eu já tinha escrito – definiu Giba, antes de recorrer a "velhos cadernos", como definiu, para desencavar as linhas que seguem.
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Giba tinha 27 anos à época – idade próxima a de todo o grupo que embarcou na aventura de Verdes anos. Confira o seu relato.
"Verdes anos é um filme sobre pequenas coisas que, num determinado momento, aconteceram na vida da gente e que, anos depois, a gente faz força pra acreditar que não tinham importância nenhuma. Pra mostrar essas coisas, a gente escolheu um grupo de pessoas entre 16 e 17 anos de idade, de várias classes sociais, e que têm em comum o fato de serem colegas numa turma de último ano do segundo grau, numa escola pública numa cidade do interior do Rio Grande do Sul. E situamos a ação num fim de semana lá por junho ou julho de 1972.
Dentro do filme, essas pessoas, essa gurizada, vai disputar o jogo decisivo no campeonato de futebol de salão, vai colar numa prova de química, os meninos vão brigar pelas namoradas no baile, as meninas vão tentar ser eleitas rainhas do colégio, um dos meninos vai curtir uma paixão platônica pela professora de literatura, uma das meninas vai tentar desencadear a revolução sexual com o professor de educação física, e todos vão fazer força pra imitar os adultos sem dar muita bola pro que os adultos tão pensando deles.
Algumas das piores coisas que estavam acontecendo no país naquela época vão passar por perto. Mas eles, a gurizada, não vão perceber nada disso. Porque eles tão muito mais preocupados é com essas pequenas coisas que não transformam a vida de ninguém, mas que mesmo assim a gente tá tentando mostrar que eram extremamente importantes. E pelo menos um desses personagens vai chegar ao final do filme tendo descoberto um sentido e uma saída pra esse ciclo, e isso vai ser realmente muito importante pra vida dele.
É claro que o filme é contado 'de dentro', sem nostalgia, sem chorar nenhum tempo perdido ou esquecido: a gente, a equipe e os atores que fizeram esse filme, considera que o nosso presente faz parte desses 'verdes anos', seja qual for a cor de 1984."
*Cineasta, professor e montador, codiretor de Deu pra ti ano 70 (1980) e Verdes anos (1984), este último com Carlos Gerbase. O texto acima foi escrito na época da estreia do filme