O jornalista americano Ronan Farrow queixou-se do silêncio da imprensa que faz a cobertura do Festival de Cannes a respeito das acusações de agressão sexual que sua irmã Dylan Farrow fez contra seu pai, Woody Allen. O diretor apresentou no festival, na quarta-feira, fora de competição, seu filme mais recente, Café Society.
"Haverá coletivas de imprensa e um tapete vermelho que meu pai vai pisar com sua esposa (minha irmã, Soon-Yi Previn). Haverá estrelas ao seu lado - Kristen Stewart, Blake Lively, Steve Carell, Jesse Eisenberg. Eles podem contar com a imprensa para não fazer-lhes perguntas desconfortáveis. Este não é o momento, não é o lugar, isso não se faz", denunciou Ronan, filho biológico do cineasta com a atriz Mia Farrow, em um artigo publicado na Hollywood Reporter.
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De fato, nenhuma pergunta foi feita sobre o tema durante a coletiva de apresentação de Café Society. No entanto, durante a cerimônia de abertura do festival, o ator francês Laurent Lafitte declarou ao diretor:
- É um prazer que você esteja na França, porque nos últimos anos filmou bastante na Europa e nem sequer foi condenado por estupro nos Estados Unidos.
Lafitte quis fazer uma piada com Allen referindo-se a outro cineasta, o franco-polonês Roman Polanski, que fugiu dos EUA após ser condenado pelo abuso sexual de uma menina de 13 anos, na década de 1970, e nunca mais voltou ao país, sob o risco de ser preso.
A frase de Lafitte não teve resposta de Allen, mas foi rebatida mais tarde pela mulher de Polanski, a atriz Emmanuelle Seigner. Em seu Instagram, ela chamou Lafitte de "patético".
"O silêncio dos jornalistas não é apenas ruim. É perigoso", comentou Ronan. "Envia uma mensagem sobre quem somos como uma sociedade, sobre diante do que vamos fechar os olhos, o que vamos ignorar, o que conta e o que não conta."
Dylan Farrow, filha adotiva de Woody Allen Mia Farrow, publicou uma carta em 2014, em plena época do Oscar, afirmando que ele a havia agredido sexualmente quando tinha apenas sete anos. O diretor chamou as acusações de "falsas e vergonhosas". Dylan foi adotada quando Mia e Allen eram casados, nos anos 1980. O escândalo surgiu pela primeira vez quando eles se separaram, em 1992, e o cineasta se envolveu com outra filha adotiva do casal, Soon-Yi Previn, com 21 anos na época.
Um juiz de Nova York e uma investigação dos serviços sociais da cidade concluíram no momento da batalha judicial entre Allen e Mia pela custódia dos filhos que as acusações de agressão sexual eram "inconclusivas".