Uma das melhores piadas de Deadpool (2016) é o comentário do herói engraçadinho quando o grandalhão Colossus promete arrastá-lo até o Professor Xavier: “McAvoy ou Stewart? Essas linhas do tempo podem ficar tão confusas”. Pois X-Men: Apocalipse (2016) deixa de lado essas idas e vindas entre o passado, o presente e o futuro dos personagens para concentrar a história no começo dos anos 1980. Se essa característica das tramas com os mutantes da editora Marvel não é explorada no novo filme da franquia que estreia amanhã, outras marcas registradas da série estão lá na tela, para alegria dos fãs de quadrinhos: uma multidão de criaturas com megapoderes de toda ordem, a dificuldade dos superdotados em conviverem com as pessoas comuns, a disputa entre aqueles que querem proteger e os que desejam dominar a humanidade e até as brigas entre mocinhos e vilões travadas dentro das mentes.
A história de X-Men: Apocalipse desenrola-se uma década depois dos eventos mostrados em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014), quando Mística (Jennifer Lawrence) tornou-se uma heroína mundial depois de voltar-se contra Magneto (Michael Fassbender), impedindo-o de cometer uma chacina na Casa Branca em 1973.
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Quem é quem em X-Men: Apocalipse
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A vida segue calma com Erik Lehnsherr/Magneto morando incógnito no interior da Polônia e o Professor Xavier (James McAvoy) dirigindo sua escola para jovens superdotados – mas uma ameaça ancestral ressurge para colocar o mundo de pernas para o ar: Apocalipse (Oscar Isaac), um poderoso mutante adorado como um deus na Antiguidade, é invocado depois de permanecer adormecido por milênios. O objetivo desse ser do mal, claro, é destruir a civilização e dominar o planeta. A fim de ajudá-lo no plano, Apocalipse sai recrutando seus quatro cavaleiros: Tempestade (Alexandra Shipp), Anjo (Ben Hardy), Psylocke (Olivia Munn) e Magneto – vítima de mais uma tragédia pessoal, que novamente o empurra para o lado negro. Alertado do perigo por Mística, o Professor mobiliza seus alunos para enfrentar o inimigo e seus asseclas: os veteranos Destrutor (Lucas Till), Fera (Nicholas Hoult) e Jean Grey (Sophie Turner) e os novatos Ciclope (Tye Sheridan), Noturno (Kodi Smit-McPhee) e Mercúrio (Evan Peters).
O melhor de X-Men: Apocalipse são os dois primeiros atos do filme – em especial, a primeira parte, em que os personagens são situados no enredo. As citações cinematográficas, musicais e de cultura pop são fartas e divertidas. A abertura no Egito Antigo lembra superproduções como Cleópatra (1963), e o clima de galera de escola secundária americana oitentista, entre os mutantes adolescentes, remete a clássicos teen como Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986).
Uma das melhores sequências de Dias de um Futuro Esquecido ganha uma espécie de bis em Apocalipse: Mercúrio dá novamente um show de rapidez e bom humor salvando os colegas – desta vez, ao som de Sweet Dreams, sucesso da banda inglesa Eurythmics. Outro momento que deve provocar frisson é a aparição de Wolverine (Hugh Jackman) – curta, mas selvagem.
Ainda que não seja superior aos X-Men anteriores, Apocalipse evita sucumbir totalmente ao gigantismo imposto a cada filme a essas superfranquias – roteiros sempre mais hiperbólicos com destruições de escala astronômica em elevação.
Melhor do que Batman vs Superman: A Origem da Justiça, mas inferior a Capitão América: Guerra Civil – comparando com dois blockbusters de super-heróis deste ano –, Apocalipse fecha com dignidade essa nova trilogia assinada por Bryan Singer. O diretor dos dois primeiros X-Men, aliás, brinca com o formato de tríptico em Apocalipse: na saída do cinema onde os amigos mutantes foram assistir a O Retorno de Jedi (1983), Jean Grey comenta que “pelo menos concordamos que o terceiro filme é sempre o pior”. Além de autoironia, é um recado para Brett Ratner, que dirigiu X-Men: O Confronto Final (2006) – longa cujos acontecimentos são solenemente ignorados em X-Men: Apocalipse
.Ah, e como costuma acontecer em filmes do universo Marvel, há uma sequência curta depois dos créditos, que acena com a possibilidade de um novo vilão.