O artista alemão Ulay, ex-companheiro de uma das artistas contemporâneas mais conhecidas do mundo, a sérvia Marina Abramovic, morreu aos 76 anos em Liubliana, na Eslovênia, por complicações de um câncer linfático. A informação foi confirmada nesta segunda (2) por sua galeria, Richard Saltoun.
Ulay — cujo nome de batismo é Frank Uwe Laysiepen — aparece em uma das performances mais famosas de Abramovic. Nela, a artista se posta, completamente vulnerável, diante de Ulay, que aponta uma flecha para ela.
A obra é parte de uma série batizada de Relation Works. Concebidas ao longo dos 12 anos em que os dois formavam um casal, frequentemente envolviam ideias de perigo e resistência e tinham como objetivo anular egos, de modo a tornar Abramovic e Ulay uma única entidade artística.
Outras performances da série envolveram os dois ajoelhados um em frente ao outro, tapeando-se mutuamente com violência crescente, ou sentados em cadeiras opostas por sete horas diárias.
O término do relacionamento também foi marcado por uma performance. Em 1988, cada um caminhou a partir de um extremo da Grande Muralha da China: Ulay partiu do deserto de Gobi, e Abramovic, do mar Ocidental (mar Amarelo). Andaram quase 2,5 mil quilômetros cada um. Ao se encontrarem, no meio do caminho, se despediram quase sem palavras.
Ulay começou a carreira no fim dos anos 1960, em Amsterdã. Antes e depois da parceria com Abramovic, ele baseou sua prática na fotografia, encarada como instrumento de investigação e transformação da identidade.
Um de seus trabalhos mais famosos é uma série de autorretratos em Polaroid em que ele se traveste e se automutila. Nos anos 1990, voltou suas lentes para assuntos como nacionalismo, racismo e desigualdade e os indivíduos marginalizados pela sociedade.
Em 2010, o artista surpreendeu Abramovic ao sentar em frente a ela na performance O Artista Está Presente, no Museu de Arte Moderna, o MoMA, em Nova York.
Um ano depois, ele foi diagnosticado com câncer. Um documentário sobre a convivência de Ulay com a doença, Project Cancer, foi lançado em 2013 pelo diretor esloveno Damjan Kozole.
Em 2015, Ulay processou Abramovic sob a alegação de que ela não tinha creditado-o devidamente em parte de seus trabalhos conjuntos. Ganhou 250 mil euros (R$ 912,5 mil à época), mais os custos da defesa, segundo o jornal The Guardian.
Abramovic lamentou a morte do artista no Instagram: "Ele foi um artista e um ser humano excepcional, cuja ausência será profundamente sentida. Neste dia, é reconfortante saber que sua arte e seu legado viverão para sempre."
A galeria de Ulay, Richard Saltoun, também homenageou o artista nas redes sociais: "Ulay era o espírito mais livre de todos, um pioneiro e provocador com uma obra radical e única na história, operando na interseção entre a fotografia e abordagens conceituais da performance e da arte corporal. Sua passagem deixa uma lacuna momentânea no mundo, que não será facilmente substituída."