Na década de 1940, as mulheres eram maioria nas salas de aula do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre (atual Instituto de Artes da Ufrgs). No entanto, ocupavam invariavelmente a posição de alunas, enquanto os professores eram sempre homens. Nesse cenário, quatro nomes despontaram tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela determinação de viverem da arte: Alice Soares, Alice Brueggemann, Cristina Balbão e Leda Flores. Elas representam a primeira geração de mulheres a se dedicar de forma profissional às artes visuais no Rio Grande do Sul.
Caso estivessem vivas, as quatro pioneiras completariam cem anos em 2017. A efeméride é comemorada com a exposição 4 Mulheres, 1 Centenário, que está em cartaz em todas as salas da Pinacoteca Ruben Berta até 1º de setembro. São 37 trabalhos – pinturas, esculturas, gravuras e desenhos que cobrem o período de atividade das artistas, dos anos 1940 até os 2000. As obras pertencem a acervos de instituições que, ao adquiri-las, valorizaram as autoras: as Pinacotecas Ruben Berta, Aldo Locatelli, Fundacred e Barão de Santo Ângelo, além do Museu de Arte do RS (Margs).
– São quatro protagonistas de um processo extremamente importante que é a profissionalização das artistas no RS. É o momento de trazer à tona essas quatro mulheres que constituíram carreira como professoras, gestoras, artistas, num momento em que isso não era confortável ou de fácil administração – resume o curador Paulo Gomes.
As quatro formaram-se no Instituto de Artes entre os anos 1930 e 1940, e começaram a lecionar, sobretudo Alice Soares (1917 – 2005) e Cristina Balbão (1917 – 2007), as primeiras professoras mulheres do Instituto de Belas Artes. Nos anos 1950, todas já tinham o talento reconhecido entre seus pares. Alice Soares participou da primeira Bienal de São Paulo, em 1951, e Leda Flores (1917 – 2016) foi premiada no Salão Panamericano, em 1958.
– Existiam outras mulheres artistas na época, mas elas se impuseram pela competência, força de personalidade e pelo reconhecimento que tiveram – avalia a curadora Blanca Brites.
A exposição traz paisagens, figuras humanas e naturezas-mortas, um repertório típico dos anos 1950. Mas a dupla de curadores sublinha que as quatro artistas seguiram caminhos distintos. Em uma parede com pinturas de naturezas-mortas, Blanca aponta a evolução da linguagem de Alice Brueggemann (1917 –2001). Já os desenhos são todos de Alice Soares, que depois dos anos 1960 parou de esculpir e pintar, e teve papel determinante na introdução do desenho como técnica autônoma na graduação de artes plásticas. A exposição tem várias de suas "meninas", temática constante em sua carreira.
No hall, o visitante é recebido por cinco esculturas de Leda Flores, entre elas a premiada A Flautista (1958). A mostra é ainda a chance de ver estudos em gesso inéditos de Cristina Balbão, que pouco expôs em vida, preferindo investir no ensino e na administração de instituições como Margs e Associação Chico Lisboa.
As "duas Alices", como eram conhecidas Alice Soares e Alice Brueggemann, tiveram mais visibilidade. Elas, que dividiram um ateliê por 40 anos, agora dividem o subsolo da Pinacoteca, que exibe gravuras datadas dos anos 1970 aos 90.
– Embora as duas usem figura feminina, é bem grande a diferença entre os trabalhos – aponta Blanca. – Tentamos trazer trabalhos de diversos períodos que mostram a personalidade artística de cada uma – acrescenta.
Assista vídeo em que a dupla de curadores fala sobre as artistas:
4 Mulheres, 1 Centenário
Pinacoteca Ruben Berta (Rua Duque de Caxias, 973), em Porto Alegre.
Exposição com obras das artistas Alice Soares, Alice Brueggemann, Cristina Balbão e Leda Flores. Curadoria de Blanca Brites e Paulo Gomes.
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 18h, até 1º de setembro.
Entrada Franca.