A artista visual e fotógrafa Letícia Lampert está em cartaz na Galeria de Arte Mamute (Caldas Júnior, 375) com a mostra Exercícios Para Perder de Vista. Sob a curadoria de Luisa Kiefer, Letícia apresenta trabalhos fotográficos produzidas entre 2015 e 2017, com imagens capturadas em diferentes lugares da China, onde realizou residência artística, e do litoral do Rio Grande do Sul. As paisagens retratadas, cobertas de névoa, brincam coma uma gradação de cores mínimas e delicadas – as paletas trazem sutis variações de brancos, beges e cinzas. Em Exercícios Para Perder de Vista, a artista propõe ao público lançar o olhar sobre a semelhança dos tons, chamando atenção para o que é possível de se ver em meio a quase nada. Letícia comenta que alguns espectadores da mostra observam-na como metáfora de sua vivência na China, onde esteve inserida em uma cultura desconhecia, sem ter total acesso às nuances ao universo sociocultural que a permeava.
– Quando comecei a fazer as imagens, era muito mais um arrebatamento estético por algo como se apresentava pra mim (as imagens tem pouquíssimo tratamento, é muito mais querer mostrar o que eu estava vendo (ou quase vendo) do que elaborar uma imagem), mas achei bem interessante esta interpretação. Me interessa, filosoficamente falando, pensar no sentido da palavra ver. O que significa ver algo? O que entendemos de fato quando estamos apenas vendo?
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Para Letícia, o nome da mostra traduz com exatidão o que ela vem a ser: "um exercício de ver, ou de perder o olhar". A temática ganha ainda mais requinte quando colocada ao lado de sua motivação estética. A artista compara as imagens ao hábito infantil de de olhar fixamente para algum lugar até perder o foco e embaralhar a visão, tornando o horizonte uma mistura de cores sem formas.
– É um trabalho mais sensível que racional.
Sobre a relação entre os locais onde as imagens foram capturadas, a artista pontua que o local não é relevante para o significado deste trabalho. A respeito do futuro, Letícia denuncia a dificuldade de se fazer arte nos dias de hoje.
– Mesmo produzindo constantemente, a verdade é que tem sido muito difícil seguir trabalhando com arte na Porto Alegre atual. A gente se questiona o tempo todo se vale a pena continuar. Muita gente boa desiste por falta de oportunidades e incentivo. O poder público, de onde deveria vir algum estímulo, tem feito o oposto. Eu teria um livro recém lançado, mas o projeto, aprovado pelo Fumproarte no edital de 2015, segue vergonhosamente sem sequer previsão de pagamento. Recebi convite para expor em um espaço institucional da prefeitura, ainda este ano, mas sem nenhuma verba para ajudar na produção. Como aceitar? Do que acham que o artista vive? Justamente de onde deveria vir a postura educadora de fazer a coisa da forma profissional, pagando cachê, fornecendo meios para produzir o trabalho, fomentando o campo, vem o oposto, ou não paga o que foi aprovado, ou propõe que se trabalhe de graça. É uma pena, mas neste cenário, difícil pensar em outra exposição tão cedo.