O texto a seguir é uma colaboração do médico, pesquisador e escritor Ivo Beuter, de Panambi.
A reportagem “A primeira hora certa de Porto Alegre”, publicada no dia 13 de janeiro de 2021, no Almanaque Gaúcho, foi muito importante para iniciar um estudo mais profundo sobre o Instituto Astronômico e Meteorológico que funcionava nas dependências da Escola de Engenharia de Porto Alegre, inaugurado no dia 24 de janeiro de 1908. Após uma pesquisa durante um ano, elaborei uma pequena contribuição ao texto.
Conforme registrado nos anais da Escola de Engenharia de Porto Alegre, na segunda metade da década de 1900 a 1910, alguns professores desta instituição resolveram instalar um sistema confiável para registrar o comportamento do clima no RS.
Em 1907, foi enviado para a Argentina o professor e engenheiro Manuel Itaqui para estudar e avaliar o Sistema das Estações Meteorológicas daquele país – que já somavam 150, espalhadas em todo território argentino. As estações estavam conectadas por via telegráfica ao sofisticado Observatório Meteorológico na cidade de Córdoba, instalado há 30 anos – na época era considerado uma referência no mundo. Diante dos dados obtidos pelo professor Itaqui, foi decidido instalar em nosso Estado um sistema similar ao argentino. Esse serviço científico e de utilidade pública devia ser implantado e coordenado pela Escola de Engenharia de Porto Alegre, o qual começou a funcionar em janeiro de 1908.
No interior do Estado, foram escolhidas cidades geograficamente estratégicas, que já operavam telégrafos, para ali locar estações meteorológicas que pudessem ser conectadas telegraficamente ao moderno centro de controle meteorológico da Capital, o qual, por sua vez, estaria ligado por via postal com Córdoba e com Rio de Janeiro – locais onde havia condições técnicas para elaborar sofisticados mapas meteorológicos da América do Sul.
Cruz Alta foi contemplada com um posto meteorológico. No povoado de Elsenau, sede da Colônia Modelar Neu-Wûrttemberg (hoje Panambi), já havia uma estação meteorológica que funcionava desde o início do ano de 1903. Com a imigração, em 1902, para a então Musterkolonie Neu Wurttemberg, do pastor luterano Hermann Faulhaber e da professora Marie von Reinhardt (casada Faulhaber), eles trouxeram na bagagem uma estação meteorológica com inúmeros instrumentos. Segundo referências, aqui se coletava dados climáticos e agrícolas da região para enviá-los a um comitê de atividades agrícolas de Berlim, na Alemanha.
Esse comitê assessorava um projeto para a construção de uma ferrovia pela empresa alemã Rio Grande-Nordwest Bahngesellschaft (RS Sociedade Ferroviária do Noroeste) para desenvolver o norte do nosso Estado, que apresentava um imenso e futuro potencial agrícola. Esse projeto foi concebido pelo eminente cruzaltense doutor Júlio de Castilhos e a empresa foi constituída por empresários alemães sob a liderança do renomado brasilianista doutor Herrmann Meyer, o fundador de Panambi.
Essa ferrovia ligaria Tupanciretã a Cruz Alta, São Luís Gonzaga, Três Passos, Nonoai, Erebango e Marcelino Ramos. Depois, esta ferrovia seguiria até Lagoa Vermelha e, depois, até Caxias do Sul. Em 1903, Júlio de Castilhos, grande amigo de Meyer, faleceu e o projeto, sem o seu idealizador, foi mudando para a atual via férrea que hoje liga Cruz Alta a São Borja.
Considerando a implantação das estações meteorológicas com telegrafia, o povoado de Elsenau não tinha ainda uma conexão telegráfica com a Capital. Foi resolvido, então, em 1907, transferir a estação meteorológica elsenauense para Cruz Alta, pois, ali, já havia telégrafo pronto para operar. De lá era possível enviar diariamente os dados do clima da região para a Estação Central, instalada na Escola de Engenharia, a qual fora conectada para esta finalidade ao Centro Telegráfico de Porto Alegre.
Fontes: Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann Wegermann, de Panambi.