
O chafariz da Praça Montevidéu, em frente à prefeitura de Porto Alegre, foi um presente da colônia espanhola ao povo gaúcho. A instalação, na elipse criada em 1927, na gestão do intendente Otávio Rocha, ocorreu durante as comemorações do Centenário Farroupilha, em 1935.
Em seus 85 anos, a linda fonte, decorada com belos azulejos coloridos provenientes de Talavera, município da província de Toledo, na Espanha, já passou por muitas e boas, e também por poucas e ruins. Os moradores mais antigos da Capital devem lembrar que durante muito tempo o acesso ao frescor de suas águas era permitido e não havia as grades que hoje impedem que se possa molhar a mão e refrescar o rosto no calor forte dos dias de verão, como ocorre em tantas outras cidades do mundo.
Essas grades já foram mais altas para proteger melhor o monumento, mas, no ano passado diminuíram de altura, embora permaneçam cumprindo a sua função. Infelizmente, motivos existem. Mais de uma vez as bacias do chafariz foram danificadas por descuido durante manifestações ou por vandalismo.
Testemunhei e fotografei um desses atentados ao patrimônio histórico e cultural da nossa cidade. No dia 28 de junho de 1978, uma quarta-feira, por volta das 15h, um sujeito de 25 anos portando uma faca escalou a fonte e postou-se em pé sobre sua bandeja mais alta, gritando e ameaçando suicidar-se.
Em pouco tempo, uma pequena multidão estava reunida em um grande círculo na praça. Os policiais da Brigada Militar não tiveram sucesso em seus apelos para que ele descesse e acabasse o show. Certamente acometido de um surto de desequilíbrio mental, o jovem golpeava o ar com a faca simulando a luta contra um inimigo inexistente. Na falta de alternativa mais adequada, os policiais laçaram o cara com uma corda. Antes que ele conseguisse cortá-la, caiu, quebrando uma borda da bacia inferior e se ferindo com um corte na perna direita.
Um soldado também se machucou, sem gravidade, ao desarmá-lo. Dominado, mas, se debatendo, foi conduzido numa viatura ao Hospital de Pronto Socorro. Mais de duas horas haviam se passado quando, finalmente, tudo terminou e a aglomeração se desfez. Outros incidentes aconteceram que, igualmente, comprometeram o chafariz que passou por mais de uma restauração ao longo dos anos, sendo a maior delas em 2008.