Minha lembrança mais remota dos carnavais do passado, mais do que visual ou sonora, é olfativa. Como esquecer o agradável aroma que invadia nossas narinas quando ingressávamos no baile infantil do antigo salão da Sociedade dos Amigos do Capão da Canoa (SACC) ainda no Edifício Aymoré. Aliás, era numa entrada lateral desse mesmo prédio que ficava o Foto Aymoré, onde íamos, nos dias seguintes aos bailes e a caminho da praia, procurar (nas grandes e rasas vitrines externas que exibiam as “provinhas”) as fotos que nos mostravam, pulando ou posando, devidamente fantasiados. Aí, era só entrar e “encomendar” as cópias das imagens numeradas escolhidas.
Voltando ao salão: o cheiro inesquecível era provocado pelos lança-perfumes Rodouro, fabricados pela Rhodia, com seu tubo metálico dourado e aquela válvula de plástico com uma mola e uma borrachinha. Certamente, o primeiro produto em spray que conheci. Nos bailes de adultos, neutralizavam lindamente os eflúvios emanados de corpos suados. A base de éter, os lança-perfumes foram proibidos em 1961, pois os foliões abusavam inalando-os profundamente ou até mesmo ingerindo, adicionando à bebida.
Nessa época, os clubes tinham as paredes enfeitadas com serpentina e grandes máscaras coloridas de cartolina, quase sempre com as mesmas estampas: Rei Momo, palhaço, arlequim, colombina. As fantasias preferidas pela garotada, ou, mais provavelmente por suas mães, eram de: havaiana, bailarina, cigana, palhaço e índios. No último caso, os espanadores eram o principal alvo fornecedor de matéria-prima. O que tinha de índio com saiote e cocar feitos com penas de espanador era uma barbaridade, tchê.
Como atesta a foto que abre a coluna de hoje, os leitores comprovam que minha querida mãe, Nilce, não cedeu à solução mais fácil: Índio? Sim, mas, índio de filme americano, daqueles como Hollywood mostrava, usando calças com franjas e machadinha. Tinha uma pena na cabeça, vá lá! Ela pode até ser acusada de “culturalmente colonizada”, mas bordou, dedicada e pacientemente, o zigue-zague nas nossas alpargatas roda. Hehehe!
Ah! e falando em bailes infantis de carnaval, lá pela década de 1950, havia também, no litoral, os chamados “banhos à fantasia”. Normalmente, fantasias de papel crepom cobriam corpo e maiôs dos pequenos foliões, até que, na beira da praia, elas se dissolviam em contato com a água do mar. Tudo ingênuo e divertido, como as coisas de antigamente.