“Sem Iwar Beckman, não existiria o cultivo comercial de trigo no Brasil (pelo menos, não nos moldes que conhecemos atualmente).” A afirmação foi escrita pelo pesquisador da Embrapa Gilberto R. Cunha no prólogo do livro Iwar Beckman, o Pai do Trigo no Brasil, editado no ano passado em Bagé.
A obra, da professora Heloisa Beckman, é muito mais do que a homenagem de uma neta orgulhosa pelo trabalho do avô. Heloisa, formada pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp) em Ciências Sociais e Artes Plásticas, nos apresenta a figura ímpar desse geneticista sueco nascido em Linköping, no dia 7 de setembro de 1896, e que morreu em Bagé, no dia 15 de março de 1971 (há 47 anos, completados na última quinta-feira), aos 74 anos de idade. Iwar chegou ao Brasil, em 1924, com 28 anos, já casado com a finlandesa Alma Wickstrom. Era um jovem talentoso que demonstrava grande aptidão para a pesquisa, o que anunciava um futuro promissor ao assistente do professor Nilsson Ehle, pioneiro da genética quantitativa, com quem estudou e trabalhou na Universidade de Lund. No início dos anos 1920, os trigais brasileiros enfrentavam diversas pragas. Em função disso, o presidente Artur Bernardes entrou em contato com a maior autoridade mundial em trigo, o professor Ehle, convidando-o para vir ao Brasil. O consagrado geneticista não aceitou, mas indicou Iwar para enfrentar o desafio.
Em 1925, na antiga Estação de Seleção de Sementes de Alfredo Chaves (atual Veranópolis), Iwar realizou o primeiro cruzamento artificial em trigo no Brasil. Surgia aí a base genética do que se poderia chamar de trigos genuinamente brasileiros. A revolução, de fato, viria com o trigo Frontana, lançado em 1940, uma variedade inovadora pelo ciclo (mais curto), pelo porte (mais baixo), pela resistência a doenças (especialmente ferrugens), pela tolerância à acidez do solo, pela adaptação, entre outras vantagens. Como as terras de Alfredo Chaves mostraram-se desfavoráveis ao trigo, os trabalhos foram transferidos para a Estação Experimental de São Luiz das Missões, onde Iwar continuou pesquisando.
Em 1928, seu contrato com o governo brasileiro terminou e não foi renovado. Iwar, com a esposa e seus dois filhos, nascidos no Brasil (Stina Birgitta e Ruy Guilherme), retornou para a Suécia, mas apenas um ano depois, a convite de Getúlio Vargas, então presidente do RS, a família retornou ao nosso país. O local escolhido, dessa feita, foi Bagé, onde foi implantada a Estação Experimental Fitotécnica da Fronteira, fundada em 1929. Iwar viveria lá até o final da sua preciosa vida. Pessoas como ele, que, injustamente, mal ou nem conhecemos, foram decisivas para o desenvolvimento do nosso Estado e do nosso país. Felizmente, o livro elaborado pela neta Heloisa deixa isso muito claro, tanto quanto enfatiza a nossa ignorância histórica e nossa ingratidão.