Era o ano de 1961. Com a renúncia de Jânio Quadros à Presidência do Brasil, aqui no sul nasceu o Movimento da Legalidade, liderado pelo governador gaúcho Leonel Brizola. O objetivo era assegurar o cumprimento da Constituição, que previa a posse do vice-presidente João Goulart (Jango, cunhado de Brizola), que se encontrava fora do país, em viagem à China. Após alguns dias de muita tensão, o general José Machado Lopes, comandante do III Exército, aderiu à causa da Legalidade, prestando seu apoio.
Pouco antes, logo após a renúncia, setores da sociedade – notadamente alguns militares – defendiam o rompimento da ordem institucional, na tentativa de impedir a posse do vice-presidente Jango. Nesse momento delicado da vida nacional, soldados do 3º Batalhão Rodoviário de Vacaria foram deslocados no sentido de vigiar a ponte ferroviária de Marcelino Ramos.
Sendo a única ligação por estrada de ferro com o sul do Brasil, a ordem era: se forças vindas do centro do país tentassem ingressar no Rio Grande do Sul, a ponte deveria ser inapelavelmente derrubada.
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Entre os soldados enviados para o local estavam Danilo Antônio Molon (na foto, com o violão), irmão do historiador Floriano Molon, e seu conterrâneo Dorvalino Bernardi (com a gaita). Eles ficaram várias semanas em Marcelino Ramos, de prontidão, numa época de escassas comunicações, aguardando os acontecimentos que selariam o destino da ponte. Devido à precária alimentação regular, os recrutas revelaram, depois, que a solução era comer muita banana. Felizmente, acabou havendo um acordo que permitiu, com restrições, a posse de João Goulart e, assim, a belíssima obra sobre o Rio Uruguai foi preservada.
Danilo morreu em 1974, num acidente rodoviário, mas aquele tempo de tensão e vigília, só quebrado pela eventual presença do som do violão e do acordeão, em breves instantes de descontração, ficaria marcado profundamente na memória daquele soldado, em serviço militar obrigatório.
A cidade de Marcelino Ramos, lá na margem do rio, permanece, ainda hoje, emoldurada por sua magnífica ponte.
Colaborou, Floriano Molon