Talvez eu já tenha comentado aqui que um dos presentes que mais me trouxeram alegria, quando era garoto, foi um rádio portátil. Meu pai, Hamilton, me levou até a Casa Victor, na Rua da Praia, onde comprou para mim um radinho Transbolso, da marca gaúcha Teleunião (a fábrica ficava na Avenida Voluntários da Pátria).
Acho que foi no meu aniversário de 15 anos, em 1966. Sim, naquela época, um menino dessa idade era muito diferente e muito mais ingênuo do que os de hoje. Então, um rádio "transistorizado", alimentado por quatro pilhas AA, era, talvez, o equivalente a um tablet ou a um telefone celular de ponta, como sonho de consumo da moçadinha.
Levemos em conta que até surgir o primeiro rádio transistor portátil, na metade da década de 1950, os aparelhos receptores, mesmo os menores, eram grandes e pesados, mas com válvulas, e exigiam uma rede elétrica ou baterias grandes e pesadíssimas.
Em 1954, a americana Regency (em parceria com a Texas Instruments) lançou o modelo TR-1, que foi o pioneiro comercializado em grande escala. Pequenas e leves (cabiam no bolso), essas "joias da tecnologia" tinham uma outra característica inovadora: assim que ligados, saíam falando, sem precisar "aquecer" como aqueles com válvulas.
Agora, quando ligo a TV e ela me manda aguardar, lembro dos rádios a válvula. Tudo muda e melhora, mas a impaciência humana parece ser sempre a mesma. Será que, no futuro, isso também vai evoluir e não teremos mais nenhum delay (termo usado para designar o retardo de sinais)? Constatar não ofende... Mas, afinal, para que tanta pressa?
Voltando aos radinhos, não podemos deixar de citar aquele que foi, seguramente, a maior estrela entre eles: o Spica. O nome vem da estrela mais brilhante da constelação de Virgem,e a 15ª mais brilhante do céu, que está a 260 anos-luz da Terra. Foi fabricado entre 1957 e 1965. Só em 1964, teriam sido produzidos 1 milhão de Spicas modelo ST 600. Eles só sintonizavam transmissões AM, mas em 1960, no Brasil, havia 735 emissoras AM e só 11 de FM. O pequeno receptor "Made in Japan", que vinha protegido por um bonito e cômodo estojo de couro legítimo, era vendido nos EUA por 50 dólares, mas, aqui, podia custar até 200 dólares. Mesmo não sendo barato, todo mundo queria um desses. Eu também comprei o meu, esse das fotos, no Brique da Redenção, cinco anos atrás. Afinal, para que tanta pressa?