Há 190 anos – exatamente entre 29 de novembro e 4 de janeiro –, Dom Pedro I lançou-se (em 1826, aos 28 anos) numa maluca e inédita viagem ao sul do Brasil durante a Guerra da Cisplatina, conflito ocorrido entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, de 1825 a 1828, pela posse da Província Cisplatina, região da atual República Oriental do Uruguai. Dom Pedro I passou a cavalo da então Desterro (hoje Florianópolis) até Porto Alegre, para fugir dos corsários argentinos que infestavam o mar do Sul, e de barco entre Porto Alegre e Rio Grande. Dormiu em palacetes, mansões e até numa cabana de sapé abandonada à beira-mar, na então Sesmaria dos Rodrigues, atual município de Passo de Torres, Santa Catarina. Esse périplo está contado no livro A Maluca Viagem de Dom Pedro I pelo sul do Brasil, na Guerra Cisplatina.
Trata-se de uma pesquisa inédita, realizada pelo jornalista Nelson Adams Filho, tendo como base o itinerário de jornada que o imperador anexou à carta que escreveu à esposa, Leopoldina, em 8 de dezembro de 1826. Os documentos estão no Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Dom Pedro queria ver a guerra "de perto" e com seus "próprios olhos". "Hei de pôr tudo em ordem", escreveu ele com otimismo. Estava enganado! A guerra custou cerca de 8 mil vidas, a maioria de jovens sulinos mortos pelas facas e lanças dos índios e dos gaúchos espanhóis, ou pela fome, diarreia e outras doenças nos vergonhosos acampamentos. Um desastre no mar, onde a Marinha Imperial sofria derrotas devido ao despreparo das naves para navegar no Rio da Prata, ou por terra, pela incompetência militar do Marquês de Barbacena. No trabalho, Nelson reconstitui os passos do imperador pelo litoral catarinense e gaúcho e o retorno de Dom Pedro I,ao saber, em Rio Grande (no dia 17 de dezembro), da morte da imperatriz Leopoldina (22/01/1797 – 11/12/1826), no dia 17 de dezembro.
Detalhes da viagem estão na obra, que buscou informações também em jornais da época. Ali estão a agonia de Leopoldina até sua morte; a revolta da população, na sede da Corte, contra Dom Pedro e Domitila, pela morte da imperatriz, acusando os dois; e a esperteza do imperador em retardar seu retorno.
O livro também retifica histórias contadas há anos sobre a passagem por Laguna, Torres e Santo Antônio da Patrulha. "Muito do que foi narrado, anteriormente, simplesmente não existiu", afirma o autor.
A Maluca Viagem de Dom Pedro I pelo sul do Brasil na Guerra Cisplatina encontra-se na Feira do Livro e nas principais livrarias de Porto Alegre.