No final dos anos 1950, a novidade era a alta-fidelidade (hi-fi) nos aparelhos de ouvir discos Long Play (LP). Meu pai mandou fazer uma grande caixa de som num técnico chamado Pio, que tinha uma oficina na Avenida Getúlio Vargas. A caixa tinha um alto-falante poderoso e outros dois menores. Nessa época, ecoavam em nossa casa as músicas do "bolachão"” do grupo folclórico Os Sinuelos. Ouvimos até quase furar o disco.
Dino Bertoglio, aos 11 anos, começou a ser apresentado por Maurício Sirotsky Sobrinho nos programas da Rádio Passo Fundo, sendo que Maurício criou um programa dominical de uma hora, durante três anos, para aquele acordeonista que ele chamava de "garoto prodígio", hoje cirurgião-dentista ainda em atividade, radicado em Rio Grande, natural de Tapejara e criado em Passo Fundo.
Aos 16 anos, em Porto Alegre, na Rádio Farroupilha, em um concurso no programa Calouros coringa, de Ary Rego, julgado por três maestros da Farroupilha, Gaúcha e Difusora, entre os quais Salvador Campanella e Karl Faust, Dino recebeu, por sua interpretação da música francesa Melancolia cigana, o título de melhor acordeonista do RS. Depois disso, foi contratado por um ano pela Farroupilha e estreou com o apadrinhamento do Conjunto Farroupilha. Rumando para São Paulo, Dino foi contratado por Manoel da Nóbrega, da Rádio Nacional, onde atuou por dois anos, ao lado de artistas como Hebe Camargo, Demônios da Garoa, Agostinho dos Santos, Roberto Luna, Sílvio Santos. ~
Em São Paulo, Dino atuou também com o Conjunto Folclórico de Barbosa Lessa em apresentações na sociedade paulistana. Em 1957, conheceu Wilson Cavalheiro, que era radialista de Pelotas e Passo Fundo e estava atuando com Lessa na sua peça Não te assusta, Zacaria, no Teatro Maria Della Costa, com muito sucesso. Juntos, propuseram-se a criar um grupo no Rio de Janeiro para difundir nosso folclore e deram o nome de Os Sinuelos. Depois de três meses de ensaios diuturnos para ensinar aos colegas as músicas, letras, danças e cantos do folclore gaúcho, finalmente foi feita a estreia na TV Tupi, em alto nível, no programa mensal Noite de gala, com o apoio da Orquestra da TV. Não é preciso dizer que foi um grande sucesso. Voltando a Passo Fundo, Dino criou uma banda de bailes, Satélites Musicais, que tocou durante sete anos em inúmeros eventos em todo o Estado, em Santa Catarina e no Paraná, e também em dois bailes da Miss Brasil Vera Maria Brauner.
Essa é a história do cirurgião-dentista que trabalha incansavelmente aos 80 anos, em Rio Grande, no seu consultório dentário. Seu Belendrengue, uma das músicas do disco, faz referência ao gaúcho, guardião das fronteiras.