A notícia de revogação da volta às aulas pronunciada pelo governo do Estado não chegou a todos os colégios do Rio Grande do Sul. O colégio Farroupilha, por exemplo, ancorado em uma orientação do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe-RS), retomou as atividades presenciais nesta segunda-feira (26).
A movimentação foi bem tranquila, com os pais chegando principalmente a pé com os filhos e os deixando sob os cuidados dos monitores logo após passar a porta de entrada do prédio. Alguns responsáveis optaram por fazer uso do drive-thru, mas um número pouco significativo.
Ainda no portão, as crianças tinham a temperatura aferida por uma funcionária, na sequência, e passavam pelos tapetes sanitizantes antes de acessarem o hall de entrada da instituição.
Segundo a assessoria de imprensa da escola, ao todo, 250 alunos da Educação Infantil e outras cem do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental também voltaram às salas de aula nesta manhã.
Segundo a assessoria de imprensa do Farroupilha, as aulas do turno da manhã serão mantidas e as do turno da tarde serão foram suspensas. Os pais seriam comunicados.
Foi também em meio ao imbróglio jurídico – que será apreciado pelo Tribunal de Justiça (TJ-RS) às 18h desta segunda-feira (26) –, que, na escolinha Tartaruguinha, no Menino Deus, os portões foram reabertos às crianças as 7h. Nos primeiros 30 minutos, nenhum estudante havia sido levado pelos pais. Após ser informado da decisão do Estado, o dono da rede decidiu fechar as seis unidades que estão atendendo.
Em frente ao prédio, tapete sanitizante foi colocado, ao lado de um totem com álcool em gel. Enquanto um banner informativo pedia que houvesse distanciamento social, despedida de familiares no lado de fora da escola, outro cartaz tinha escrito apenas “que bom que vocês voltaram!”.
— Vamos ter que fechar, infelizmente. Reabrimos porque foi decidido pelo governo do estado que poderíamos abrir. Acho que está faltando respeito com as escolas e a sociedade, estão brincando com as pessoas. A escola se preparou para o retorno, convocou seus funcionários, investiu para a reabertura e as 23h mandam fechar, não é justo — desabafa o dono da rede Tartaruguinha, Nilo Ortiz.
Dos 65 alunos com idades entre três meses e seis anos incompletos –, 70% deveriam regressar, segundo enquete realizada pela direção da Tartaruguinha.
Em um grupo de WhatsApp que reúne donos de instituições particulares, uma pesquisa apontou que 65 escolas abririam, relataram os empresários na manhã desta segunda-feira. As instituições que reabriram seguiam a orientação do Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS).
Às 6h30min, funcionários da Piruetas, também no bairro Menino Deus, higienizavam os espaços, à espera dos educadores. Uma reunião com os docentes estava marcada para essa manhã, como forma de definir o calendário.
No colégio Santa Dorotea, no bairro Vila Ipiranga, cerca de 80 alunos distribuídos entra a Educação Infantil e o 1° e 2° do Ensino fundamental voltaram às aulas. Porém, estudantes do turno da tarde já não terão aula presencial, as atividades voltam a ser ministradas de forma remota, comunica a escola.
Marinice Simon, diretora educacional da instituição, afirma que o desejo de voltar é grande, mas que isso deve ser feito de forma cautelosa.
— Gostaríamos de voltar, recebemos as crianças, mas temos que aguardar, porque não podemos agir na contramão. Mas estamos sempre na expectativa de retorno, porque a infraestrutura e os cuidados necessários já foram tomados para a volta às aulas — afirma.
Em meio à euforia do breve retorno com os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental, a professora Débora da Luz passava orientações que reforçavam a importância do distanciamento social e da higiene da mãos. Ela conta que a confirmação da suspensão da volta às aulas é desmotivadora.
— Muito triste isso tudo, porque nós tomamos os cuidados necessários, a cautela está até redobrada para essa retomada. Entendo que há o risco, mas temos risco até mesmo indo no supermercado, não vejo o motivo para não termos aulas. E essa instabilidade de decisões em relação ao retorno aos trabalhos presenciais vai causar uma frustração muito grande nas crianças, porque eles estão realmente felizes por poderem voltar — observa a professora.
O impacto da decisão nas famílias
Enquanto as aulas não começavam para Matias Weizenmann, oito anos, estudante do 3º ano, a pequena Amanda Weizenmann, quatro anos, aluna da Educação Infantil do Colégio Santa Doroteia adiantava a arrumação da mochila para a aula que começaria no turno da tarde desta segunda-feira. Agora, Caroline Blessmann, mãe da pequena, precisará ajudar no desmanche do material e contar para a filha que o retorno à sala de aula foi, novamente, postergado.
— Ela estava muito animada com o retorno, tinha até me perguntado se o coronavírus tinha ido embora. Vou explicar a situação e pedir calma. Às vezes, tenho a impressão de que é mais difícil para a gente, os pais, do que para os filhos. Isso porque eles não têm noção do que estão perdendo da infância, a gente tem consciência disso. Contudo, acredito que ela vai ficar frustrada, porque a ansiedade dela estava muito grande. A inconstância das decisões é muito ruim e cruel. É preciso que os poderes conversem entre si, alinhem as propostas antes de mexerem com a expectativa das famílias —pontua.