Um homem que jamais demonstrou cansaço. Assim, o frentista Diego Hasselmann Oliveira, 29 anos, era descrito por amigos, familiares e pela esposa, Cristina Cencena, 28 anos. Morador de São Vicente do Sul, Diego trabalhava como frentista entre meia-noite e 6h, e mantinha a mesma disposição durante o dia para brincar com as filhas gêmeas, Paloma e Morgana, de quatro anos. Aliás, estar com a família era o passatempo favorito dele. Isso deixou de ocorrer quando Diego foi internado com coronavírus em 27 de maio. Ele morreu 13 dias depois. Segundo a esposa, Diego não usava medicamentos de uso contínuo para alguma comorbidade, mas estava acima do peso.
—Elas me perguntam "por que o pai está no céu?" e eu respondo "o Papai do Céu precisava de uma pessoa muito forte para cuidar de nós lá de cima e, por isso, levou o pai de vocês" — conta Cristina, ainda abalada com a perda repentina do marido.
Grandes amigos durante todo o Ensino Médio, Cristina e Diego começaram a namorar no final da adolescência. Mesmo quando ele precisou servir ao Exército em Santiago, o casal continuou o namoro. No fim do período, o rapaz morou em Santa Maria durante um ano. Na sequência, passou a morar com a namorada em São Vicente do Sul. Natural de Santa Maria, onde residem os pais dele, Diego gostava da quietude da cidade de 8,4 mil habitantes, segundo o Censo 2010.
Juntos, o casal foi construindo aos poucos a casa da família, concluída em setembro do ano passado. Duas semanas antes de adoecer, Diego ainda teve tempo de inaugurar a churrasqueira da nova morada. Churrasco era o prato favorito dele, regado ao som de tchê music e reggae, os seus ritmos favoritos.
Nos primeiros sintomas da doença, recorda Cristina, Diego decidiu se isolar da família. Numa segunda-feira, ao apresentar febre, ele foi ao médico, acompanhado da mulher, e fez radiografia do pulmão. No dia seguinte, a própria empresa na qual trabalhava o levou a Santa Maria para um teste rápido para covid-19, que deu negativo. No outro dia, já não suportando a falta de ar, Diego deu entrada no hospital da cidade. Como o quadro agravou-se com rapidez, o encaminharam diretamente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Santa Maria, onde um novo teste confirmou covid-19. Foi a última vez em que Cristina e Diego se viram.
Nos dias seguintes, a mulher ficou na casa de parentes na cidade, à espera de notícias do marido, mesmo não podendo ficar ao lado dele. Seria uma forma, inclusive, de agradecer pelo período em que ele ficou ao lado dela no nascimento das filhas, em Alegrete. As gêmeas vieram com sete meses de gestação e precisaram ganhar peso durante dois meses. Neste período, Cristina ficou com as filhas na cidade, distante 133km de São Vicente do Sul, e Diego ia e voltava nos finais de semana para estar ao lado da família.
— Ele foi um pai muito dedicado e presente. Me acompanhava em todas as consultas depois que levamos as nossas filhas para casa. Estava sempre inventando uma brincadeira nova para elas. Quero que elas tenham as melhores lembranças do pai — diz Cristina, emocionada.
Diego morreu 10 dias antes do casal completar 11 anos de relacionamento. Ainda faltavam ajustes na casa nova. Desde a partida dele, a mãe e as filhas não retornaram para a morada da família. Cristina planeja voltar em breve. Em memória ao marido, ela pretende, inclusive, concluir o ajardinamento do pátio, projetado por Diego.