Às vésperas da entrada em vigor da troca de bandeiras do distanciamento controlado no Rio Grande do Sul, o comércio de municípios da Região Metropolitana, que pode ter de fechar as portas a partir de terça-feira (23), já apresentava um movimento menos intenso na manhã desta segunda-feira (22). Em Novo Hamburgo e Canoas, onde a reportagem circulou pela região central, os comerciantes estavam divididos: enquanto alguns davam como certo o fechamento e organizaram mecanismos para comercializar produtos à distância, outros tinham esperança de que as lideranças municipais conseguissem reverter a decisão do governo estadual.
No município do Vale do Sinos, região que na última semana apresentou piora significativa nos parâmetros avaliados pelo governo para determinar o grau de distanciamento, havia bem mais gente circulando na rua do que dentro das lojas. Por volta das 10h30min, nenhuma pessoa tinha ingressado na loja de roupas femininas onde Carina Siqueira trabalha, no calçadão Osvaldo Cruz. O local já estava aberto há duas horas.
— Movimento está morto. De semana passada para cá deu uma caída. Acho que o pessoal está segurando dinheiro — disse a vendedora.
A metros dali, no mesmo horário, a loja de cosméticos administrada por Deise Sebastião tinha apenas um cliente dentro do estabelecimento. Ela ainda tinha dúvidas sobre a real necessidade de fechar as portas na terça-feira:
— Vamos cumprir o que for determinado, mas acho que o pessoal não está muito inteirado, não.
A administradora, que se disse surpresa com a decisão do governo estadual, acredita que as regras mais rígidas podem ser resultado do mau comportando da população. Na loja onde trabalha, onde uma classe escolar era usada como barreira física ao acesso dos clientes — atendem apenas uma pessoa por vez —, diversas pessoas tentaram ingressar sem máscara ou acompanhadas nas últimas semanas.
No município vizinho, São Leopoldo, boa parte das lojas estavam abertas no Centro. A movimentação do comércio contrastava com a iniciativa da prefeitura, que interditou brinquedos de diversas praças com fitas nesta segunda-feira. O bloqueio trazia um recado, pedindo à população que ficasse em casa.
Já em Canoas, a circulação era mais intensa, tanto nas vias, como no comércio da área central. Na Rua Tiradentes, um dos principais pontos de venda do Centro, a reportagem identificou, inclusive, pequenas aglomerações em algumas lojas. Ainda assim, para quem vende, o movimento era considerado abaixo do esperado.
— Começou a diminuir faz alguns dias, acho que por causa de certo terrorismo, já se estava falando que podia fechar. Mas, além do medo, acho que muita gente não quer gastar agora — avalia Hamudeh Baja, supervisor de uma loja de calçados e artigos esportivos.
Baja ainda tinha expectativa de que o município conseguisse reverter a decisão do governo. Caso se visse obrigado a fechar na terça-feira, seu plano era manter as vendas pela internet.
A validade da determinação estadual também gerava incerteza em Yesser Maed e Camila Butinge, proprietários de uma loja de roupas femininas no calçadão. Donos de outras unidades em Porto Alegre, eles começaram a operar em Canoas há menos de uma semana.
— Abrimos porque tínhamos fechado o negócio antes da pandemia. Mas esses decretos estão muito confusos, né? Se a gente tiver que fechar, vamos continuar vendendo pelo Instagram — disse Maed.
O governador Eduardo Leite irá anunciar na tarde desta segunda-feira (22) o resultado da análise dos pedidos de recurso contra a troca de bandeira. O governo estadual não divulgou quais municípios das cinco regiões previstas para entrarem em bandeira vermelha contestaram a determinação.