O uso de máscara é um dos pilares das regras de contenção da pandemia de covid-19. A medida não é, sozinha, a bala de prata para conter o coronavírus, mas contribui no controle da doença.
O avanço de uma epidemia é influenciado por variáveis como comportamento do vírus, convivência ou distanciamento da comunidade, densidade populacional da região, higiene das mãos, etiqueta higiênica (tossir no braço) e, também, uso de máscara.
De todos os fatores, especialistas consultados por GaúchaZH afirmam que distanciamento e lavagem das mãos têm maior potencial para controlar a curva epidêmica do que o uso de máscaras. Há certo consenso de que o acessório serve mais para evitar que uma pessoa infectada transmita o vírus adiante do que para a autoproteção de alguém saudável.
A medida é importante em um cenário no qual se estima que 80% das pessoas terá coronavírus sem qualquer sintoma — o uso do acessório, portanto, evita que você infecte outros sem saber. Agora, com a maior convivência entre as pessoas em meio à retomada de serviços, a estratégia ganha força.
— Há uma questão plausível: a máscara reduz a eliminação de gotículas no ambiente. A indicação agora não significa que deveríamos ter feito anteriormente. Está adequado em momento no qual se flexibilizam medidas de restrição e se adicionam outras medidas para prevenir a transmissão. São momentos diferentes da pandemia. O momento de flexibilização exige o uso da máscara, que é outra barreira — afirma o médico infectologista Rodrigo Pires dos Santos, coordenador da comissão de controle de infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Estudos realizados após o início da pandemia é que começaram a indicar que o uso de máscaras pode ser uma boa proteção, sobretudo para quem tem o vírus e não sabe. Pesquisa de Hong Kong, publicada no periódico Nature Medicine, indicou que a presença do novo coronavírus caiu de 40% para zero em ambientes nos quais as pessoas que tossiram usavam máscara cirúrgica (veja o infográfico a seguir).
— No início, a recomendação era só para profissionais da saúde, mas isso vem gradativamente mudando. É uma doença que não se conhecia e se viu que mesmo as máscaras caseiras, ainda que não sejam 100% efetivas, protegem. Sou a favor do uso, sobretudo em ambientes fechados com mais de duas pessoas, como bancos, farmácias, supermercados e no ambiente de trabalho. É uma ferramenta importante para prevenção, além de lavar as mãos — diz o virologista Eduardo Flores, professor de Saúde Pública e de Epidemiologia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Apesar das novas evidências, ainda não há consenso sobre o uso irrestrito de máscaras. Levantamento da Secretaria de Saúde de Porto Alegre (SMS) mostra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os governos da Inglaterra e do Japão recomendam máscaras apenas para profissionais da saúde, sintomáticos ou quem convive com sintomáticos. Por outro lado, os ministérios da Saúde de Brasil, China, Estados Unidos, Alemanha e Finlândia recomendam o uso geral.
O principal argumento contra o uso irrestrito é evitar corrida às compras que cause desabastecimento para profissionais da saúde. Mas há também riscos, como de autocontaminação por uso errado (quando o indivíduo coloca a mão na máscara infectada e depois toca olhos, boca ou nariz) e de falsa sensação de segurança que deixe a pessoa relapsa.
A mudança no entendimento sobre ser a favor ou contra o uso geral é sintetizada por Cezar Riche, médico infectologista do Hospital Ernesto Dornelles: no início, ele mesmo era contra o uso de máscaras por leigos, mas agora defende a estratégia.
— Recomendações mudam com frequência em uma dinâmica quase semanal. A máscara reduz a emissão de partículas e dá uma proteção na face para evitar transmissão. Sozinha, ela não tem o mesmo efeito do que aliada à etiqueta respiratória, higiene das mãos e reclusão das pessoas com sintomas. A princípio, evita mais a transmissão do que realmente faz a proteção do indivíduo. Assim, ajuda mais a comunidade — diz Riche.
A efetividade das máscaras depende do tipo de tecido — a N95 é mais eficaz do que a de malha de algodão, que por sua vez é melhor do que a de tecido TNT. O Ministério da Saúde orienta que o utensílio tenha ao menos duas camadas de pano de algodão, tricoline, TNT ou outros tecidos, cobrindo totalmente a boca e nariz, sem deixar espaços nas laterais.