Vem do Japão mais uma esperança de cura da covid-19. A empresa farmacêutica Fujifilm Toyama Chemical anunciou na quarta-feira (1º) o início de testes clínicos do favipiravir, conhecido no país asiático sob o nome comercial Avigan. A companhia planeja testar o medicamento em cerca de 100 pacientes infectados com o novo coronavírus em ensaio que durará até o fim de junho.
- Os resultados dos estudos já feitos com este fármaco mostram basicamente o que a gente já sabia. Que diminui o tempo de recuperação do paciente em um dia, às vezes, três. Mais ou menos como a cloroquina e a hidroxicloroquina - explica o conselheiro do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) Fabiano Nagel, integrante do Grupo de Trabalho de Enfrentamento à covid-19 da instituição.
Apesar de depositar boas expectativas sobre o medicamento, o infectologista Alexandre Vargas Schwarzbold, presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia, diz que sua utilização em larga escala depende deste estudo clínico anunciado, mais consistente do que o anterior feito na China e que trouxe resultados positivos.
- Não há nada que nos autorize a usá-lo por enquanto. É tudo muito inicial ainda, mas tomara que funcione - torce.
- Como é um medicamento que já existe no mercado, caso se demonstre de fato eficaz, não deve demorar tanto (para ser distribuído) - complementa o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Spilki - Enquanto estão sendo feitos os testes, grupos que têm ligação com pesquisa nos hospitais vão começar, provavelmente, a utilizar em pacientes graves. Então, a gente pode imaginar (a aplicação) ainda dentro deste ano - conclui.
Schwarzbold lembra que outros antivirais e antimaláricos, como o remdesivir, a cloroquina e a hidroxicloroquina também estão sendo testados nos Estados Unidos e no Brasil. Para ele, somente em seis meses, ou mais, algum desses poderá ser utilizado em um grupo considerável de infectados.
- Antes do nosso inverno, dificilmente teremos evidência científica de qualquer um deles - pontua.
O Avigan teve produção e venda aprovadas em 2014 para combater a influenza no Japão, porém, nunca foi distribuído no mercado e não está disponível em hospitais ou farmácias de nenhum país. É usado apenas como último recurso para tratar certos tipos de doenças e somente quando ocorre surto de um vírus novo, incapaz de ser contido com outros antivirais. É preciso, ainda, autorização expressa do governo japonês por conta dos efeitos colaterais apontados, entre eles abortos ou malformações fetais. Por isso, grávidas foram excluídas do estudo. O Composto será administrado durante o período máximo de 14 dias em pacientes de 20 a 74 anos, todos com leve pneumonia.
A droga ganhou atenção após um estudo da Universidade de Wuhan, cidade chinesa na qual o vírus se espalhou, mostrar eficácia no tratamento da doença. De acordo com Pequim, o favipiravir permitiu reduzir o tempo de cura de pacientes com coronavírus. A Fujifilm não participou, no entanto, dos estudos clínicos chineses.
Os dados disponíveis até o momento indicam que o favipiravir atrapalha o processo de cópia do RNA, molécula “prima” do DNA que serve de material genético para muitos vírus, como o novo coronavírus. Ao impedir que esses vírus produzam novas cópias de seu genoma, a droga seria capaz de barrar a reprodução viral nas células humanas.