O dia seguinte à publicação do decreto do governador Eduardo Leite, que entre outras medidas proibiu por 15 dias a circulação de ônibus interestaduais, levou os passageiros da rodoviária de Porto Alegre a buscarem outras alternativas para chegar a seus destinos. Seja dividindo a viagem em mais de um trecho ou negociando valores com transportadores particulares, o que prevaleceu na manhã desta sexta-feira (20) foi a desorientação.
— Preciso visitar minha mãe em Santa Catarina, o que eu faço? — questionava o agricultor Valdecir Moro, 53 anos, buscando uma maneira de chegar à cidade de Araranguá.
Após discutir possibilidades com outros passageiros e com funcionários da rodoviária, o agricultor decidiu comprar uma passagem até Torres. De lá, a viagem deve seguir por táxi ou até mesmo cruzando a divisa dos Estados a pé, tomando um novo coletivo para percorrer os 60 quilômetros restantes.
A empresa Real Expresso cancelou todas as viagens entre Porto Alegre e Brasília. Às 7h, o agente Luciano de Moura, 42 anos, já havia atendido ao menos cinco passageiros que telefonaram solicitando orientações sobre como proceder.
— Alguns não entendem. Eu explico que não é da empresa, é determinação do governo — disse.
Às 6h30min, um ônibus da Unesul chegou à rodoviária após 20 horas de viagem a partir de Foz do Iguaçu, no Paraná. Segundo o motorista, esta foi sua última rota entre os Estados, já que as demais estão canceladas.
Também obedecendo o que determina o decreto de Leite, os ônibus intermunicipais circulam com, no máximo, metade da capacidade. Com janelas laterais e o alçapão do teto abertos, um veículo da Expresso SB partiu da Capital em direção a Encruzilhada do Sul próximo das 8h, com 12 pessoas a bordo, além do motorista. São oito horários diários, ida e volta, segundo cobrador Adroaldo Vicente, 30 anos.
— A demanda está caindo muito, mas não retiramos nenhum veículo, para atender a determinação de vender só metade das passagens — justifica.
Outra orientação seguida é a de não transportar passageiros lado a lado, devendo deixar vago o assento próximo ao corredor, confirmado em fotos tiradas de dentro do coletivo, antes de iniciar a viagem de 180 quilômetros até o Vale do Rio Pardo.
Motoristas oferecem “caronas” pagas
Enquanto percorrem os guichês procurando por informações, os passageiros são abordados por motoristas de aplicativos que negociam valores para viagens a cidades como Florianópolis, São Paulo e até o Rio de Janeiro.
— As pessoas que estão vindo estão apavoradas, querendo ir direto pra casa dos parente — conta José Lima, 54 anos, motorista do BlaBlaCar, aplicativo que combina "caronas pagas".
Foi essa a saída do turista africano Kelvin Mante, 20 anos. Sem falar português, ele pediu ajuda a outro viajante, que solicitou a corrida para Tubarão (SC).
— Preciso ir para a casa do meu irmão — conta o jovem, natural de Gana, que conseguiu uma viagem até o seu destino por R$ 73.