O formato da ilha principal de Singapura às vezes é descrito como o de um diamante – e talvez seja adequado para descrever as luzes brilhantes que tem papel de destaque no filme "Podres de Ricos" e sua filosofia materialista. Porém, se for além das aparências, você vai se encantar com a história da mistura de chineses, indianos, malaios e outras nacionalidades, presentes e influentes no meio século de independência dessa cidade-Estado. E graças a uma comida de rua soberba e um transporte público eficiente, não é preciso estar nadando em dinheiro para aproveitar esse cenário cinematográfico, ainda mais acessível com o novo voo direto da Singapore Airlines que sai de Newark, Nova Jersey.
Sexta, 17h00
Uma questão de boa fé
Comece a visita com um retrato que mescla o passado e o presente de Singapura na Telok Ayer Street, aonde os imigrantes chineses chegavam de barco. Embora muitos projetos arquitetônicos tenham transformado a orla e os arranha-céus tenham tomado conta da rua estreita, templos e oratórios de muitos credos foram preservados nesse bairro. Vale a visita ao templo Thian Hock Keng, cuidadosamente restaurado, construído no século XIX por imigrantes hokkien para agradecer a travessia segura. Passe pelos minaretes e arcos do Centro do Patrimônio Muçulmano Nagore Dargah ali ao lado e siga para Chinatown, onde Sri Mariamman, o templo hindu mais antigo da nação, convida o visitante a admirar a torre ornamentada (gopuram) e os oratórios coloridos.
19h00
Paladar pan-asiático
As praças de alimentação são a maneira mais rápida de introduzir o paladar pan-asiático local ao recém-chegado, pois permite que se prove pratos como carne de caranguejo frita com molho pimenta, frango pochê com gengibre e batata roti servida com um molho de curry bem apimentado. A disputa entre o pessoal local para saber qual dos endereços serve a melhor versão de cada prato é grande, mas o Lau Pa Sat se diferencia também pela estrutura imensa de ferro e a designação de monumento nacional. À noite, os vendedores oferecem espetinhos na Boon Tat Street, levando a experiência gastronômica para a rua, literalmente. Se prefere um clima mais tranquilo, o Amoy Street Food Centre (7 Maxwell Road) é popular entre os moradores e os críticos da Michelin Bib Gourmand. Ali, os preços das entradas, bem substanciosas, ficam entre SGD$3 e SGD$6, ou US$2,25 e US$4,50.
21h00
Um pouco do clima singapuriano
As lojas de fachadas coloridas da Amoy Street agora abrigam academias de CrossFit, barbearias hipsters, restaurantes coreanos e outras que refletem a tendência nacional. O Native, inaugurado há menos de dois anos, surpreende com coquetéis feitos a partir de ingredientes locais, que vão de mangas frescas a tapioca, passando por flores de jasmim e até formigas. O clima regional está em todos os detalhes, da trilha sonora aos porta-copos feitos de folhas de lótus e de bananeira desidratadas (coquetéis a partir de SGD$20).
Sábado, 11h00
Estilo Costa Leste
A torrada de abacate e o café de origem única podem ser marcas registradas do brunch no bairro descolado Tiong Bahru e no exclusivo Jalan Besar, mas quando se começa o dia em Katong, cheio de mansões coloridas do século XIX, o melhor é ir de kaya, ou os pãezinhos lambuzados de geleia de coco e manteiga servidos com ovo cozido. Os mais famintos (e Instagrammers de carteirinha) fazem fila no quase centenário Chin Mee Chin Confectionery, verdadeira instituição local onde os pãezinhos grelhados (SGD$1) e as porções bem servidas compensam o serviço ríspido. Se quiser uma refeição mais substanciosa, aposte na interpretação local do laksa, uma sopa apimentada de curry, leite de coco e macarrão servida em vários pontos como no 328 Katong Laksa (a partir de SGD$5,35) e Marine Parade Laksa (50 East Coast Road, No. 01-64; a partir de SGD$4,50).
12h30
Vida glamurosa
No papel de centro cultural da comunidade muçulmana de Singapura, o bairro de Kampong Glam, cercado de palmeiras, continua popular entre viajantes e lojistas. Oriente-se em volta da Mesquita do Sultão, de 90 anos de idade, parecendo mais renovada do que nunca graças à reforma de 2016, que devolveu o brilho às cúpulas douradas e preservou a porta de madeira original. Se quiser ir além de só espiar os acessórios, tapetes e cafés de nomes vagamente europeus em Arab Street e Haji Lane, baixe o aplicativo Singapore Heritage Trails, plataforma gratuita com itinerários patrocinados que revelam o que cada região de Singapura tem a oferecer.
14h00
Olhe e toque
Descanse as pernas na Looksee Looksee, sala de leitura de 25 lugares que oferece uma coleção eclética de livros de arquitetura, arte e culinária. O decorador John Lim e o arquiteto Yong Sy Lyng criaram o espaço usando móveis extravagantes, estampas tropicais e tecidos criativos. Há várias opções de chá da empresa local A.muse Projects. Se quiser comprar lembrancinhas para levar para casa, a Supermama, logo ao lado, oferece conjuntos de porcelana decorados com o perfil inconfundível da cidade, desenhados em Singapura e feitos em Kyushu, no Japão.
15h30
Estilo de vida cheio de arte
Os prédios onde funcionavam a sede da Prefeitura e do Supremo Tribunal renasceram no projeto ambicioso e bem-iluminado da Galeria Nacional de Singapura, em 2015, refletindo o interesse e orgulho nacional cada vez maiores na arte local. Ali você encontra pinturas e esculturas de todo o Sudeste Asiático, reunindo os diversos estilos que transcendem os limites impostos pelas fronteiras. Obras de artistas como Georgette Chen e Chua Mia Tee representam imagens do passado e do presente. (Ingresso a SGD$20 para não residentes.)
17h30
Clube da cultura
Destacando-se na orla como duas metades de um durião maduro (fruta local muito popular, mas de cheiro tão forte que seu transporte em ônibus e trens é proibido), o centro de artes performáticas Esplanade abriga mais de três mil eventos, que vão desde concertos de classe internacional a programas comunitários despretensiosos. A qualquer hora que aparecer por lá pode dar de cara com uma produção de música eletrônica ou instalação de vídeo, ou ainda um concerto com músicas de Enrique Granados e Benjamin Britten. Se você não quiser ver nada, pelo menos reserve alguns minutos para se sentar na grama bem aparada e admirar a bela vista da cidade e da Baía Marina.
20h00
Cura para ressaca
Keong Saik Road, ao lado de Chinatown, há muito deixou de ser vista como a região do meretrício, com restaurantes internacionais e bares ocupando hoje seus prédios em art déco. Entre as cevicherias e churrascarias australianas, o Cure se destaca por seus menus degustação de preço fixo (cinco pratos nos fins de semana, SGD$120; três nos dias de semana, SGD$95). O proprietário e chef irlandês Andrew Walsh aposta na ousadia, servindo pratos como sopa de cebola com dashi, bife Kobe temperado com harissa e caranho no vapor com funcho. Uma opção popular é o Kok Sen (30 Keong Saik Road), que tem até fila na porta por causa da tze char, como é conhecida a culinária chinesa hokkien, com pratos como a sopa de camarão apimentada (SGD$16).
21h30
Jardins do bem
Poucas coisas representam Singapura tão bem quando o Gardens by the Bay, um parque ao mesmo tempo luxuriante e futurista. Seus mais de cem hectares abrigam conservatórios temáticos, trilhas sinuosas e os Supertrees, jardins verticais que chegam a 16 andares e são unidos por passadiços suspensos. Emboras as estufas internas e o Skyway, de 22 metros, fechem às nove da noite, os jardins externos ficam abertos até as duas da manhã, oferecendo a oportunidade de admirar as instalações bem iluminadas quando o público é consideravelmente menor e a temperatura é mais agradável.
Domingo, 9h00
Coney Island alternativa
Quem não puder passar o dia inteiro em Pulau Ubin, ilha rústica que parece ter parado no tempo, com cabanas de telhado de ferro corrugado, lagos e mangues, pode se divertir algumas horas em Coney Island Park. Mais de 80 espécies de aves, incluindo o martim-pescador-de-colarinho e a coruja-dos-pagodes, vivem nessa reserva de quase 50 hectares. Algue uma bicicleta em um dos vários postos em Punggol Point Park, logo ali ao lado, para explorar a área verde costeira ou faça a caminhada pelas praias da área com guia (gratuita, mas é preciso fazer inscrição no nparks.gov.sg).
14h00
No fim das contas, é uma ilhota
Praticamente ao lado das docas de Pulau Ubin, a Little Island Brewing Co., animada e espaçosa (comprota 270 pessoas) serve SPA (versão local para a India pale ale) e outras cervejas não pasteurizadas e não filtradas. Para acompanhar, asinhas de frango marinadas no tamarindo (SGD$8) e se acabe na música ao vivo. O aeroporto Changi fica logo ali ao lado, mas vale a pena esticar o fim de semana em Singapura até o último minuto.
Acomodações
O Vagabond Club, recheado de obras de arte e com sua própria "biblioteca de uísque", oferece 41 quartos aconchegantes no centrinho de Little India e Kampong Glam; diárias a partir de SGD$275.
Uma antiga loja de especiarias e destilaria hoje é o Warehouse, um hotel boutique de 37 quartos que oferece uma piscina com cara de aquário na cobertura. Diárias a partir de SGD$240.
Com localização central, Chinatown serve de base mais que conveniente para Airbnbs de um quarto com diária a partir de SGD$100. Jalan Besar, com seus cafés e diárias entre US$110 e US$150, é uma alternativa mais despojada ao badalado Tiong Bahru. Não se esqueça, porém, de que os aluguéis por períodos menores de três meses continuam ilegais em Singapura.
Por Chaney Kwak