Por Zita Prates de Oliveira, especial*
Em uma área de 34 mil km² a leste do Tocantins, o Jalapão abriga nascentes, rios, cachoeiras e fervedouros de águas cristalinas, dunas alaranjadas, praias de finas areias brancas, serras, chapadões e cânions. Uma natureza intocada que tem como atributos a beleza e o silêncio, já que, nos caminhos da região, raros são os sons de trânsito ou qualquer atividade humana.
O nome Jalapão tem origem em uma planta comum na região, a jalapa-do-brasil, tubérculo que era misturado à cachaça para dar um sabor diferente. Uma dose dupla dessa cachaça era um jalapão.
A região tem duas estações bem definidas: uma de seca, nos meses de maio a setembro, e outra de chuva, entre outubro e abril. Apesar do calor, a melhor época para visitar o Jalapão é a de seca. Na das chuvas, as estradas de terra ficam intransitáveis. Como a infraestrutura é precária (inclusive a de serviços, pois não há postos de gasolina ou socorro mecânico), não é recomendável utilizar carros de passeio. Menos ainda circular em um veículo sozinho. Melhor seguir o exemplo das operadoras de turismo, que utilizam veículos 4x4, em duplas, e rádio para comunicação.
O acesso à região se dá a partir de Palmas, capital do Tocantins, ponto inicial de um circuito que segue pelas pequenas cidades de Ponte Alta do Tocantins, Mateiros, São Felix do Tocantins e Novo Acordo. O roteiro também pode ser feito no sentido inverso, iniciando em Novo Acordo e terminando em Ponte Alta. Nessas pequenas cidades estão localizadas as pousadas que oferecem o conforto de hospedagem, alimentação e comunicação aos visitantes que se aventuram pela região.
Ponte Alta
Em Ponte Alta, também chamada de "portal do Jalapão", há o primeiro contato com cânions, cachoeiras e a imensa Pedra Furada. Um pequeno oásis de frescor na estrada poeirenta, o cânion do Sussuapara (tipo de veado da região que frequentava o lugar para lamber o sal existente nas paredes), com uma profundidade de 15 metros, tem no seu interior uma pequena cachoeira e um riacho, produto da água que escorre das paredes rochosas.
Depois, vem o primeiro contato com as límpidas quedas d'água do Jalapão. A visita às cachoeiras do Soninho Grande, com seu grande volume de água que escapa entre pedras até cair em uma estreita garganta, e do Soninho Pequena, larga e rasa, um convite ao banho refrescante em águas transparentes.
O obrigatório passeio para ver o pôr de sol na Pedra Furada atravessa extensa região onde são comuns as formações rochosas de arenito, como os morros do Chapéu, dos Dois Irmãos, da Bigorna e da própria Pedra Furada, que se erguem isolados em meio à planura sem fim do cerrado. Acessado por uma trilha improvisada, o imponente bloco de arenito da Pedra Furada tem passagens criadas pela erosão, as quais servem de moldura para observar o entardecer.
Mateiros
A cidade de Mateiros concentra as principais atrações do Jalapão: as cachoeiras da Velha e do Formiga, dunas, fervedouros e o povoado de Mumbuca. A cachoeira da Velha, no Rio Novo, oferece boa infraestrutura de visitação, com passarela e ponto de observação que possibilitam ver em detalhe a beleza das limpíssimas quedas d'aguas de 25m de altura, divididas em dois saltos em forma de ferradura. Não é permitido o banho, mas o local é ponto de partida para a prática do rafting. A pequena cachoeira do Formiga é outra beleza da região com suas águas azul-esverdeadas correndo em um leito de areia branca. Cercada de vegetação que filtra a claridade e muda a cor da água, a cachoeira é uma maravilha para os olhos. Nela, o banho é permitido e é possível ficar abaixo da queda d'água para massagear o corpo.
A visita às dunas é um dos passeios mais esperados do Jalapão, em geral feito ao final da tarde para observar o pôr do sol. Formadas pela erosão da serra do Espírito Santo, as dunas com até 30m de altura se espraiam por uma área de 4 mil m² onde a areia é entremeada pelas águas de um rio e de lagoas formadas pelas chuvas.
Mateiros oferece o primeiro contato com os fervedouros, poços de água transparente com fundo de areia branca onde ocorre o fenômeno da ressurgência das águas. Abaixo do poço, há um lençol freático e abaixo dele, a rocha impermeável. Sem espaço para vazão, a nascente subterrânea jorra água e areia para a superfície. A água aflora, borbulha e não permite que ninguém afunde dentro do poço. Diversão garantida para os banhistas tentando sem sucesso alcançar o fundo dos poços. Os fervedouros se localizam em áreas particulares, cobram ingresso, têm infraestrutura precária e, levando em conta seu tamanho, limitam o número de banhistas e o tempo de permanência na água.
Ainda em Mateiros, a visita ao povoado de Mumbuca, comunidade quilombola que produz o artesanato com capim dourado, cuja matéria-prima é a haste de uma pequena flor branca do cerrado. Colhido pelos homens da comunidade durante um mês, a partir de 20 de setembro, o capim dourado se transforma em cestos, bolsas, bijuterias, entre outros.
São Felix do Tocantins
Em São Felix, a visita a mais um fervedouro, o maior deles e mais recente descoberto, o Bela Vista. Com a mesma beleza dos anteriores, mas melhor infraestrutura: deque e cabides ao redor do poço, banheiros e passarela de madeira na mata para chegar até ele. Possui várias bocas e comporta até 10 pessoas ao mesmo tempo na água. Um banho mágico, em águas frescas, transparentes, borbulhantes e sem chance de afundar.
No caminho de volta a Palmas, já a partir de Mateiros, São Felix do Tocantins e Novo Acordo as veredas, as serras e morros são a atração da viagem. As veredas identificadas pelo verde e pelas palmeiras buritis marcam os muitos sítios com água. A serra do Espírito Santo, imensa, onipresente em grande parte da estrada, a serra da Catedral que na ponta de uma chapada apresenta a clara fachada de uma igreja, os morros Vermelho e dos Macacos com suas formas de arenito moldadas pelo vento. Todos brotam em meio à extensa planura do cerrado nessa paisagem única.
Palmas
Embora não seja incluída nos roteiros turísticos, é interessante reservar um dia para conhecer a cidade, a mais nova capital de Estado do país, fundada em 1989. Como Brasília, foi planejada com grandes quadras comerciais e residenciais, avenidas largas, rotatórias e áreas ajardinadas.
Situada às margens do lago formado pela Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães, tem as lindas praias de água doce da Graciosa, dos Buritis, do Caju e a ilha do Canela, onde podem ser praticados esportes náuticos.
A Praça dos Girassóis, considerada a maior da América Latina, concentra os principais prédios públicos e monumentos que marcam a história da região, como o Memorial da Coluna Prestes, projeto de Oscar Niemeyer que abriga o acervo de documentos e objetos da Coluna em sua passagem pelo território e o monumento aos Dezoito do Forte de Copacabana, belo conjunto de esculturas que homenageia os civis e militares participantes da ação do movimento tenentista que ocorreu em 1922.
Requisitos para viajar
- Suportar o calor acima dos 30° durante o dia no período da seca. À noite refresca, com temperaturas abaixo dos 22°.
- Paciência para percorrer longos trajetos de estradas de terra e de areia em veículo 4x4. Ao final do circuito, o turista terá rodado aproximadamente 1,2 mil km, dos quais 850 km em estradas de chão batido.
- Disposição para encarar trilhas improvisadas. Muitas atrações estão localizadas em propriedades particulares, com nenhuma ou mínima infraestrutura.
- Aceitar o fato de que, durante grande parte do dia, estará desconectado do mundo. A reduzida rede de comunicação limita o uso do celular e da internet aos locais de hospedagem. Como a infraestrutura é praticamente inexistente, não há caixas eletrônicos nem agências bancárias.