Por Jeremy W. Peters
Em geral, a ociosidade não é algo que os visitantes das regiões mais remotas do Caribe precisam procurar. É um estado que se impõe.
Seu carro alugado quebra em uma manhã de sábado, deixando-o de castigo no estacionamento de uma praia qualquer, por exemplo, e você liga para o número na chave para descobrir que: a) eles não abrem aos sábados; b) a pessoa que o atende depois do expediente (todo mundo já foi embora) diz que talvez – há uma chance remota – de alguém lhe arranjar um carro que ande. Só não sabe quando.
No fim, você percebe que a razão por que sua calamidade está sendo tratada como uma mera inconveniência é porque exatamente isso que é. E, no meu caso, ocorrências desse tipo devem ser lembretes do conselho de um conhecido que vive em St. John há mais de 20 anos: desacelere.
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St. John se abre das maneiras mais inesperadas se você tiver paciência. Foi tirando o pé do freio que descobri uma pequena trilha perto de um mirante chamado Peace Hill, que levava a uma praia deserta; a maioria dos turistas a ignora, pois está a caminho da principal atração turística, isto é, as ruínas de um moinho antigo.
Foi diminuindo o ritmo que vi a vida marinha entrando e saindo dos manguezais quando fui mergulhar de snorkel em East End; a princípio, crustáceos e peixinhos minúsculos estão invisíveis, mas se você se mexer o mínimo possível e esperar, devagarzinho eles ganham vida.
Se você não for mais devagar, é bem provável que nem aproveite a ilha. Para começar que não há aeroporto ou doca de navio de cruzeiro em St. John, o que já diminui significativamente as hordas de turistas. Muita gente nem se toca de que ela faz parte dos Estados Unidos, como uma das três Ilhas Virgens principais que pertencem ao país. Fica a um pulinho de balsa de St. Thomas, essa sim acessível por vários voos diretos a um dia de distância de cidades como Nova York, Atlanta e Miami.
Na verdade, o que faz com que St. John dê a impressão de ser tão isolada e tranquila é o fato de estar praticamente fora do alcance das incorporadoras – afinal, mais da metade da ilha é ocupada pelo Parque Nacional das Ilhas Virgens. Ali, você não vai encontrar o tipo de projeto chamativo que lota outras partes da região; não há hotéis imensos, centros comerciais lotados de lojinhas que vendem camisetas e quinquilharias, vendedores na praia berrando para anunciar as trancinhas da moda ou oferecendo água de coco.
Eu já conhecia St. John. E aquilo de que nunca me esqueci – e o que me fez voltar, mais de uma década depois de sair de St. Thomas onde, recém-formado, comecei a trabalhar de repórter, retornando para a porção norte-americana continental dos EUA – foi que era para lá que o pessoal local ia quando precisava de férias.
Quando voltei, no ano passado, percebi que nunca dediquei tempo suficiente para conhecer St. John tão bem quanto deveria. Desta vez, com meu companheiro, Brendan, queria aproveitar. Em quatro dias, passamos com nosso Wrangler no maior número possível de estradas transitáveis, parando em todas as praias, bares, mirantes e trilhas que o tempo nos permitiu.
Boa comida em Cruz Bay
Como porto local mais movimentado e destino das balsas que saem de St. Thomas e das Ilhas Virgens Britânicas, Cruz Bay é o mais próximo que St. John chega de ter uma cidade. É fácil achar que conheceu tudo depois de caminhar 20 minutos por suas ruas estreitas, mas o melhor a fazer é mesmo pedir referências a quem mora ali.
Duas das melhores opções para comer e beber que descobrimos estavam fora do circuito, mesmo sendo fáceis de encontrar para quem se dispuser a perguntar.
A primeira é o Bowery, um pequeno bar onde paramos para o happy hour uma vez. É sossegado porque deixa do lado de fora o agito das casas da orla, graças às portas de vidro. "É para manter os bêbados lá fora", nosso garçom explicou, a voz bastante satisfeita. Pedimos um rosé seco e refrescante e uma tábua bem servida de queijos e frios, que segurou muito bem nosso apetite até a hora do jantar.
Outra descoberta preciosa foi o restaurante & bar descolado, de inspiração asiática – o Rhumb Lines, dentro do Bayside Mini Mart. Passe pelo corredor de batatinhas, produtos de higiene pessoal e refrigerantes, avance pelos caixas e um belo jantar que inclui pad thai de camarão, mahi-mahi grelhado e atum Sichuan, coberto de sementes de gergelim, estará à sua espera.
Snorkeling em East End
A maioria das pessoas, incluindo gente que mora em St. John, nunca vai até o fim de East End. Não é nem tão longe – fica a meia hora de carro de Cruz Bay –, mas de certa forma, a área é uma ilha em si mesma. Segundo o último censo, apenas 51 pessoas moravam ali, em uma faixa estreita de rochas e praia perto das águas britânicas. As praias são menores; a vegetação é mais seca, com muitos cactos.
O grande diferencial são os mangues que cercam algumas das enseadas ao longo do litoral sul. Da estrada, parecem apenas arbustos que crescem às margens da água, mas com snorkel e máscara dá para ver uma verdadeira floresta submarina.
Estacionamos no acostamento, bem pertinho da água, e entramos. Aí fomos explorando o litoral devagarzinho, parando o tempo todo para espiar com calma o que estava agitando a intrincada rede de raízes sob nossos pés: lagostas, peixes de inúmeros tamanhos e cores, coral de franja dançando ao sabor da correnteza. Foi um mergulho como nenhum outro que fiz na vida.
Depois de tanta espera e belas descobertas, precisávamos de uma bebida. Havia algumas opções: a primeira era o Shipwreck Landing, em Coral Bay, um pequeno assentamento que não passa nem por aldeia. Saboreamos tacos de peixe ótimos, regados a boa cerveja no almoço, e conseguimos uma mesa com vista para o mar.
Tinha também um lugar de que tinha ouvido falar, mas nunca vira, um pouco menos convencional: o Angel's Rest, que nem sempre está no mesmo lugar, já que está localizado em uma plataforma flutuante de 12 metros. Porém, geralmente está à vista e o capitão, Peter, encontra-se ancorado em algum lugar próximo a Hansen Bay.
Estacionamos no acostamento mesmo (há uma estrada só nessa região mais remota) e passamos por uma abertura em uma cerca para chegar à praia. A impressão era a de que estávamos invadindo a propriedade de alguém, mas não havia ninguém ali para nos contestar.
Nadamos até o barco de Peter, subimos e fizemos nossos pedidos. Brendan pediu desculpas ao entregar a Peter uma nota molhada de US$ 20.
– Bom, se você me desse uma nota seca, ia receber o troco molhado, mesmo – brincou Peter.
Eu aproveitei para pedir uma segunda rodada e Brendan mergulhou atrás de uma tartaruga marinha. Eu ainda estava em ritmo de férias.