Nos litorais de Alagoas e Pernambuco, resistindo aos avanços das grandes cidades e preservando as belezas da natureza, pequenas praias paradisíacas se agigantam ao lado de centenários campos de cana-de-açúcar. Com água, às vezes azul e em outras transparente, as praias têm ar caribenho, os coqueiros repletos de cocos marcam presença em quase todos os lugares e a temperatura amena do litoral agrada durante todo o ano.
Porto de Galinhas, meu destino oficial, localizada no município de Ipojuca (PE), é uma encosta com sintomas de pequena cidade emergente, pela badalação de sua praia nas últimas décadas. Recebeu, e ainda recebe, grande quantidade de turistas brasileiros e estrangeiros de diversas idades e objetivos distintos. Com ondas surfáveis e uma boa vida noturna, Porto de Galinhas me lembrou muito o litoral catarinense. Acostumado com o movimento de praias como Campeche e Jurerê Internacional, em Florianópolis, minha vontade era descobrir a imensidão de um novo mundo, lugares que só conhecia por fotos e TV. Encontrei as tais praias diferenciadas na verdadeira alma do litoral nordestino, onde reina a paz e o sossego. Não foi preciso chegar ao fim da viagem para perceber que meu objetivo foi alcançado.
Os corais, os peixes, as águas cristalinas - tudo é digno de muitas fotos em Maragogi (fotos: Caio Figueiredo)
Beleza submersa de Maragogi
Ao chegar ao aeroporto do Recife em uma quarta-feira, eu não podia dimensionar o valor da descoberta do dia seguinte. Com um trajeto de 60km, cerca de uma hora de viagem, acompanhando um grupo de turistas gaúchos, chegamos à primeira e mais sensacional praia desta viagem. Localizada ao sul de Porto de Galinhas, Maragogi transcende ao comum. Não sei se o céu impecavelmente sem nuvens ajudou, mas a cor azulada da água é diferente e impressiona até um manezinho acostumado aos encantos de Floripa.
Sem muita demora, o grupo se encaminhou para um passeio de catamarã até o agrupamento de corais daquela praia. Se a primeira impressão foi boa, a segunda foi ainda melhor. Os corais, cercados de vida marinha, conseguiam ser observados com nitidez do alto do barco, foi inevitável sentir vontade de mergulhar para vê-los de perto.
A experiência de nadar tão próximo a ouriços e acompanhado por pequenos peixes é única, uma sensação de descoberta, onde tudo é digno de foto. Depois de algum tempo o local ficou abarrotado de turistas, e a água deixou de ser tão cristalina. Era hora de voltar para a pousada para relaxar e recarregar as energias para o dia seguinte.
Porto de Galinhas é uma das principais atrações de Pernambuco
História local
As marcas dos primeiros homens a povoar nosso país são evidentes, construções antigas como pequenos engenhos com seus arcos, igrejas seculares, faróis e ruínas de antigas casas. O gigantesco cultivo da cana-de-açúcar, primeira grande riqueza agrícola brasileira, ainda forte no Estado de Pernambuco, é evidente. Em praticamente todas as cidades, áreas verdes há um campo de cana com seus trabalhadores.
Vidas em mudança
Muitos assalariados rurais, que por anos se restringiram à agricultura nos canaviais locais, aproveitam a alta do turismo brasileiro para lucrar à beira-mar e deixar os antigos R$ 15 por tonelada de cana cortada guardados apenas na memória.
Nas praias pernambucanas o vendedor local, do informal ao formalizado, lucra e prova para o povo da região que o trabalho de boia-fria não é mais unanimidade por lá.
Vila de Nazaré, em passeio de buggy pelas praias
Tapioca e música
A cultura nordestina é rica em detalhes e deve servir de modelo para o resto do país. Dos sucos de frutas locais, como cajá e graviola, que são vendidos em quase todos os restaurantes e lanchonetes, passando pelas tapiocas recheadas com coco e leite condensado e feitas na hora, até chegar ao bolo de rolo, semelhante ao nosso rocambole e com recheio de goiabada, a alimentação típica agrada aos visitantes.
Mas é na música e nas artes plásticas que o Nordeste se destaca. O povo da região é artista em tudo o que faz. Em letras do pernambucano Luiz Gonzaga, como o trecho de Saudade de Pernambuco, a terra é valorizada: "Ai que saudade lá de Pernambuco, de Iputinga, Arruda, Encruzilhada, de Água Fria, Torre, Dois Irmãos. A saudade tá danada, num resisto não. Se me aperta mais o peito, pego o avião".
Aos 80 e poucos anos, seu Luiz aproveitou tudo
Exemplo de vida
Um tímido senhor, carinhosamente chamado por todos de seu Luiz, mostrou ser um exemplo a ser seguido. No alto de seus 80 e poucos anos, ele viveu a viagem como se não houvesse amanhã. Caminhou, se banhou, passeou e observou tudo o que sua mente podia registrar. Ele fez questão de guardar na memória cada detalhe, sem tirar foto e tampouco falar. Ver é o suficiente.
Era evidente seu desejo de aproveitar a vida, ao contrário de tantos outros senhores e senhoras que abrem mão de viver para simplesmente sobreviver. Em uma das paradas de buggy realizadas no trajeto entre as praias de Gaibu e Calhetas, onde está a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, primeira edificação da região construída ainda no século 16, Seu Luiz não pensou duas vezes e desceu do veículo, seguindo sozinho em direção à beirada de um dos morros. Observou e registrou em sua mente tudo o que podia. Era esse seu objetivo, desbravar o desconhecido.
Em outra ocasião, sua jovialidade veio novamente à tona. Fui companheiro deste senhor em algumas de nossas caminhadas diárias até o "centrinho" de Porto de Galinhas. Em nenhuma delas, em um trajeto de dois quilômetros, seu Luiz reclamou de dores ou, até mesmo, andou em "marcha lenta".
*O repórter viajou a convite da empresa de turismo SBTUR