A manhã ensolarada de domingo (7) foi marcada por emoção na praia de Tramandaí. Pessoas com deficiência puderam tomar banho de mar – algumas pela primeira vez – com a ajuda de andadores feitos com materiais reciclados. A ação "Na Pr.AI.A com Tampinha Legal", que ocorreu na Casa de Verão do SESC, já está na 4ª edição e promove inclusão, acessibilidade e economia circular.
Moradores de Porto Alegre, Guaíba e Erechim foram trazidos até o Litoral Norte para participar da iniciativa. Cerca de 20 pessoas cegas, com baixa visão, com deficiência e cadeirantes, entre crianças e adultos, puderam experimentar o mar — que, apesar da cor "chocolatão", fez a alegria de todos.
Isso foi possível graças aos Protótipos de Andadores Infantis de Areia em PVC (Pr.A.I.A), feitos com plásticos e sobras da construção civil, em oficinas gratuitas promovidas pelo Instituto SustenPlást. O material é ideal para o banho de mar, já que as cadeiras de roda tradicionais afundam e estragam. Os protótipos estarão disponíveis para veranistas (veja abaixo).
Antes do banho, as pessoas fizeram um coração na areia, em frente a garrafões com tampinhas, que o programa recolhe para revender para reciclagem. Depois, com os participantes já nos andadores, famílias, escoteiros e banhistas fizeram um arco com as mãos e aplaudiram enquanto eles se dirigiam ao mar.
A pequena Manuella dos Santos Silva, cinco anos, deu uma risada espontânea ao sentir uma onda pela primeira vez na vida. O pai Valério Silva, de Canoas, e a mãe Daiane dos Santos, de Porto Alegre, se emocionaram ao vê-la curtindo e tentando encostar na água.
— Muito bom poder ver ela na água, ter a chance de poder sentir a areia, a água. Ela amou, e isso não tem preço, a alegria dela — comemorou a mãe.
— Muito feliz por ela. Esse rostinho… é lindo ela sorrindo assim, gostando — emocionou-se o pai.
A monitora Rita de Cássia Couto, 51, também acompanhou o filho na atividade à beira-mar e classificou a ação como "superimportante", por incentivar as pessoas a reciclar tampinhas.
— É uma reciclagem tão fácil que as pessoas acabam não fazendo por não conhecer. Isso ajuda a natureza, e também tem essa ação de hoje, que faz a felicidade das crianças, que leva até a praia e eles podem entrar em pé, com o andador, e tudo é proporcionado por esse plástico reciclado — destacou.
Levando o plástico ao mar
A iniciativa permite dar um destino nobre aos resíduos plásticos e de construção civil, além de mostrar que é possível ter acessibilidade e limpeza na praia, conforme Simara Souza, gerente do Instituto SustenPlást.
— Nós também provocamos as pessoas a pensarem que o plástico pode ser levado para o mar, sim, da forma correta. Levando da forma apropriada nós produzimos acessibilidade a quem precisa. Então é uma atitude tão simples e tão importante. Nós precisamos fomentar atitudes de solidariedade, de cidadania, de civilidade — salientou.
Para o presidente do Instituto SustenPlást, Alfredo Schmitt, a ação mostra à sociedade que o descarte adequado é o melhor caminho para todos os resíduos.
— Nós temos uma campanha muito forte nisso. Sempre dizemos que artefatos em plástico não têm perna, não têm asa, não têm nadadeira, se ele está em algum lugar inadequado, é por causa de uma ação humana. E a gente consegue trazer a inclusão social, mostrando que tudo que é um resíduo hoje a gente pode transformar em um artefato que seja útil para sociedade — ressaltou.
Após as atividades na praia, os participantes ganharam um almoço antes de retornar às suas cidades.
Disponíveis aos veranistas
Os andadores agora ficam disponíveis em todas as casas de verão do SESC, de Torres ao Cassino, para empréstimos aos veranistas que necessitarem de apoio para o banho de mar – desde idosos a pessoas com deficiência permanente ou temporária, como uma pessoa que quebrou o pé. A solicitação é gratuita, mediante a apresentação de um documento, até o final da temporada. A intenção da organização é que o modelo se espalhe por todo o litoral brasileiro.
O programa Tampinha Legal é uma realização do Instituto SustenPlást com o apoio do Movimento Plástico Transforma. Todos os segmentos da sociedade são convidados a recolher tampas plásticas e destiná-las a entidades assistenciais do terceiro setor cadastradas no Tampinha Legal. Os valores obtidos pelo programa com a venda são destinados integralmente para as entidades assistenciais participantes. O programa não recebe comissões ou gratificações sobre o material coletado. No primeiro semestre de 2023, ultrapassou R$ 3 milhões destinados 100% às entidades assistenciais.