Com cada vez mais locais adotando a política “pet friendly”, a presença de cachorros nas areias das praias gaúchas também é frequente. Na manhã de sábado (19), várias famílias passeavam ou brincavam com seus bichinhos na beira-mar de Capão da Canoa.
Moradora de Tapes, a autônoma Sabrina Pereira da Silva, 36 anos, levou a cachorrinha Lola pela primeira vez para a praia. Ela está há um ano com a família:
— É a diversão dela!
Perto dali, a educadora Miriam Machado Barragana, 49, e o motorista Odir Santiago da Cunha, 58, caminhavam na areia com a cachorrinha Pretinha, 14 anos, e o outro cachorro da família, Billy, quatro anos.
— A gente caminha com eles, assim como em Porto Alegre. Aquele lá quer tomar banho! — brinca Miriam ao comentar a felicidade do cãozinho Billy ao chegar perto da água do mar.
Pela legislação municipal, a prefeitura de Capão permite que os animais domésticos façam passeios na beira da praia, com a orientação de que sejam conduzidos na guia ou coleira. Permanecer com os pets no local, no entanto, é proibido. A lei não especifica restrições quanto à água do mar.
No domingo (20), mais famílias passeavam com os bichinhos. Ketlyn Alves, 19 anos, estava com a poodle Maia, 11 anos, no colo. A cachorrinha costuma participar do passeio da jovem com os pais, os empresários Luciano Luiz Alves, 42, e Karine Ficagna de Lemos, 41.
— Trazemos ela porque ela não faz as necessidades na areia — conta Karine.
Outros municípios do Litoral Norte também têm regras municipais que regulam a presença dos animais na beira da praia. Em Torres, uma lei complementar de 2020 trouxe mais liberações para a que já estava em vigor e vetava a presença de animais domésticos (Lei 4003/ 2006). O texto acrescentado permite a circulação e permanência de cães na faixa de areia, desde que estejam em guias, fiquem acompanhados de um responsável maior de idade e não entrem em contato com a água do mar. O novo artigo ainda proíbe a entrada de animais que possam oferecer riscos, como os chamados "mordedores viciosos" (que recorrentemente mordem pessoas ou outros animais), raças violentas especificadas, cães no período do cio, sem carteira de saúde veterinária atualizada e com menos de seis meses de vida.
Em Tramandaí, a secretária municipal do Meio Ambiente, Dalma Machado, explica que é proibida a circulação de cães na faixa de areia e afirma que há placas com essa informação. Ela observa que as pessoas têm sido mais cuidadosas, o que fez com que o município trocasse a fiscalização por abordagens mais focadas na instrução.
— Não temos uma fiscalização rigorosa a este respeito, até porque ali o pessoal caminha bastante no calçadão e leva pets para passear. A gente insiste bastante que levem a embalagem para recolher as necessidades e temos tentado instruir quando a gente encontra.
A situação é semelhante no município vizinho. Em Imbé, placas indicam que a circulação de animais é proibida na beira da praia. A prefeitura afirma que existe um pedido do Ministério Público de mais ações de fiscalização neste sentido, mas a abordagem atual das equipes está priorizando orientar os tutores de animais que desrespeitam a regra em vez de oferecer punições.
Em Xangri-Lá, a lei proíbe desde 2008 que animais estejam na orla marítima. Apesar disso, Mariane Lavieja, servidora do gabinete do prefeito e diretora do Projeto Bem Estar Animal, afirma que a gestão municipal decidiu se adaptar às circunstâncias atuais, priorizando orientar a população para que os animais estejam em boas condições de saúde se forem passear entre os veranistas.
— A gente leva em consideração o bom senso das pessoas. Os animais que estão com tutores, o ideal é que estejam vacinados e tenham condições de saúde para não transmitir alguma doença — comenta Mariane, que acrescenta que uma comissão multidisciplinar está sendo organizada para repensar e atualizar a legislação.
Um cenário mais permissivo ocorre em Cidreira. De acordo com o prefeito, Elimar Tomaz Pachedo, pets estão liberados para ficar na beira da praia.
— Sim, é permitido, mas para cães de grande porte é recomendado o uso de coleira e guia e que ande no máximo 1,2m afastado do tutor.
O veterinário Fillip Holland, que viaja para o município, diz que costuma levar os próprios cachorros em áreas da praia mais utilizadas por pescadores, para evitar incômodos a quem não gosta dos bichinhos. Para ele, se o animal estiver saudável e com a vacinação e controle de parasitas em dia, não há problemas de contaminação. Ele salienta que é preciso estar atento à saúde do bichinho. Se não estiver bem, não é indicado.
— É a mesma lógica de levar o cachorro para passear na rua ou em uma praça. O problema é quando o animal está com alguma doença ou fungo na pele, por exemplo, daí pode transmitir algo.
A veterinária Júlia Pahim concorda que é possível manter os animais de estimação na beira da praia, desde que sejam tomados cuidados de precaução para não comprometer a saúde do bichinho. A especialista comenta que já existem protetores solares desenvolvidos exclusivamente para animais e que há risco de queimaduras graves, principalmente nas patas, se o cachorro pisar em uma superfície que está muito quente. Como orientações, ela indica que o tutor coloque o pé no chão para verificar a temperatura antes se prosseguir com a caminhada, além de garantir a hidratação com água e não deixar o animal exposto ao sol por muito tempo, dando preferência para espaços com sombra.
— Não pode deixar esse animalzinho exposto ao sol, porque ele pode ter hipertermia, aumentando muito a temperatura corporal, e ele pode ter um mal súbito ou até ir a óbito, como o caso dos cachorrinhos que ficam presos dentro do carro.
A veterinária explica que não há problema em deixar os animais em contato com a água do mar, mas chama a atenção para que, em raças de cães de pelo longo, o tutor dê um banho depois do passeio para remover o sal do mar. Nestes casos, também é importante garantir que o bichinho esteja completamente seco, para evitar o desenvolvimento de dermatites através das áreas que ficarem molhadas no corpo.
Sobre o risco de os cães fazerem as necessidades na areia, Júlia dá uma dica.
— Leva o tapetinho higiênico junto para ele conseguir fazer ali. Daí tu consegue descartar no lixo orgânico. Caso o animal acabe defecando na areia: recolhe imediatamente com uma sacolinha e descarta no lixo também.
Com relação a possíveis problemas aos seres humanos, o infectologista André Luiz Machado, do Hospital Conceição, segue a mesma opinião dos veterinários. Para o médico, se existir o acompanhamento adequado das vacinas e do controle de pulgas, não há um risco maior de transmissão de doenças parasitárias aos veranistas.
— O difícil é ter uma fiscalização para garantir isso, mas se há consciência das pessoas de juntar o cocô no caso de o animal fazer na areia, não vejo problema.
Recomendações dos veterinários para levar os animais de estimação à praia:
- Mantenha a carteira de vacinação atualizada. Cães precisam fazer o reforço das vacinas polivalente e antirrábica anualmente. O mesmo vale para o uso do antipulgas (atualização de acordo com o tempo de cada produto) e do vermífugo (a cada quatro meses, de preferência).
- Evite horários de sol intenso para os passeios, inclusive na cidade. Prefira logo no começo da manhã ou final da tarde. Coloque o pé sem calçado no chão para verificar a temperatura. Se estiver quente para você, também vai prejudicar o pet.
- Animais também podem sofrer queimaduras de sol. Já existem protetores solares para eles que ajudam na prevenção. Não deixe o pet muito tempo exposto e escolha pontos com sombra.
- Ofereça água para manter o animal hidratado.
- Fique atento a sintomas. Se seu bichinho está doente ou tem algum ferimento de pele, por exemplo, ele não pode andar na rua e entrar em contato com outros animais.
- É recomendado que cachorros de pelo longo que entrarem em contato com a água do mar tomem banho para retirar o sal e fiquem bem secos para evitar dermatites em áreas molhadas.
- Para controle das necessidades, a dica é levar o tapetinho higiênico junto e colocar no lixo orgânico após o uso. Caso o animal acabe defecando na areia, recolha imediatamente e também descarte no lixo.