Tripular o equipamento tido como o mais avançado para o resgate de vítimas em afogamento é trabalho que exige conhecimento técnico e preparo físico e emocional. As equipes responsáveis por resgates em helicóptero no Litoral Norte precisam não só ajudar a definir o trajeto feito pela aeronave e a mantê-la em espaço seguro logo acima da água, mas também saber cair em mar revolto.
Na sexta-feira (28), a reportagem acompanhou o treinamento de equipes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, que ocorre uma vez por semana. A ação foi feita em Xangri-Lá.
Há dois tipos principais de resgate que utilizam o helicóptero. O que determina a escolha de qual será aplicado é o estado da vítima no mar e a distância que ela está da beira da praia, entre outros fatores.
No primeiro tipo de resgate, o mais complexo, o guarda-vidas salta da aeronave, se lança ao mar e alcança a vítima. Depois, uma corda é jogada na água e amarrada na vítima e no socorrista, que são conduzidos até a areia. Essa técnica é utilizada em casos mais graves e quando a vítima está em situação de afogamento mais avançada.No segundo modelo, o helicóptero é usado para acessar o local e lançar o guarda-vidas na água. Depois, o bombeiro e a vítima são retirados dali com uma moto aquática.
Neste ano, policiais civis e bombeiros atuam de forma integrada e permanente pela primeira vez. Os treinamentos entre as equipes começaram ainda em novembro, nas águas do Guaíba.
Conforme o tenente-coronel Isandre Antunes, chefe de operações do Corpo de Bombeiros, uma equipe de seis guarda-vidas está apta a integrar o grupo que faz resgates pelo ar. Eles precisaram passar pelo treinamento de tripulante operacional, específico para tripular aeronaves, e recebem preparação tanto de equipes dos bombeiros quanto da Polícia Civil. Os guarda-vidas também recebem noções sobre segurança da aeronave e de voo, aprendem a saltar no mar – um pulo em posição ou local inadequados pode causar até fraturas – e a se aproximar de vítimas.
— A visão traseira da aeronave é feita por essa tripulação, eles são os olhos do piloto. Então precisam ter esse conhecimento para estarem na aeronave. A atuação precisa ser cirúrgica, é no detalhe. Até mesmo uma onda mais forte pode derrubar o helicóptero. Outra coisa que se treina muito é justamente a queda. Se ocorrer, a equipe deve agrupar dentro da aeronave e só depois sair dela, já na água, o que pode exigir bastante preparo emocional.
No Estado, o coronel afirma que nenhuma queda ocorreu até hoje.
Há ainda outros cuidados que devem ser observados quando o helicóptero é utilizado. O deslocamento de ar, em razão da hélice, por exemplo, costuma causar tumulto ao chegar perto da faixa de areia: pode levantar guarda-sóis e outros itens de veranistas, espalhar areia e até derrubar crianças menores. No treinamento, a ideia é minimizar esses impactos ao máximo.
Há 30 anos atuando na temporada de verão pelos bombeiros, o coronel lembra do tempo em que também participava dos resgates. Um dos casos mais marcantes foi quando precisou retirar da água três crianças, ainda na década de 1990, no mar de Capão da Canoa.
— O nosso protocolo é sempre resgatar a vítima que já alcançamos. Porque, ao deixar uma vítima para ir até outra, a probabilidade de perdê-la é muito grande. Mas eu cheguei em uma criança e depois consegui alcançar a outra. A terceira estava mais longe e já apagando. A sensação é de que eu iria perdê-la. Felizmente, nunca precisei tomar a decisão de escolher qual salvar, porque um colega chegou em seguida e pegou essa outra criança.
Na época, toda a ação era feita a nado, o que torna o trabalho mais exaustivo. Atualmente, o apoio de helicóptero e lanchas torna os salvamentos mais ágeis.
Diretor de divisão e delegado de polícia, Carlos Iglesias Júnior destaca a importância do treinamento integrado entre as equipes.
— A nossa expectativa é que a equipe não precise ser acionada, que não haja afogamento, porque o principal fator é a prevenção. Podemos dizer que 70% do nosso trabalho é treinamento. Não adianta você acionar uma equipe que não está preparada. Precisamos estar prontos para executar as ações com conhecimento e segurança.
A base da aeronave está localizada em Imbé, onde as equipes ficam a postos e podem ser acionadas para atender qualquer balneário do Litoral Norte. Já as motos aquáticas ficam em diferentes praias.