Quase tanto quanto o mar "chocolatão" ao longe e o vento nordestão, as dunas são um sinal claro de que se está em um município litorâneo no Rio Grande do Sul. Mas além de servirem como "cartão-postal" da praia e como passagem obrigatória para os banhistas rumo à faixa de areia, elas têm sido a escolha de veranistas, que, por motivos variados, optam por ver o litoral de cima.
De manhã cedo, quando o sol ainda não estava muito forte e havia bem poucos veranistas na praia, lá estava a enfermeira Helenice Bitencourt de Oliveira, moradora de Gravataí, observando a movimentação da praia do alto de uma duna em Tramandaí. Espaço nas areias era o que não faltava, mas ela seguia tranquilamente sentada em seu posto avançado litorâneo.
— É bom sentar nas dunas, sentir a energia da praia, aproveitar esse silêncio que é difícil encontrar lá embaixo. Aqui, tenho mais contato com a natureza, consigo me centrar. E ainda dá para garantir um bronzeado — explica Helenice, que em todos os dias ensolarados do feriadão de folga resolveu passar um tempo sobre os cômoros.
Alguns desses momentos são compartilhados com os cães Zeus e Lua, agitados irmãos de sete anos. Como não podem descer para a praia, o passeio matinal deles pelo calçadão de Tramandaí por vezes encontra uma pausa para o descanso e a contemplação lá de cima das dunas.
O autônomo Felipe Morgado, 45, bebia tranquilamente um coco enquanto sentava em uma cadeira com cores da bandeira do Grêmio em uma duna próximo à guarita 73 de Capão da Canoa. Ele enumera a privacidade, a vista e o vento mais forte como pontos altos de estabelecer-se por ali.
— A praia é de todo mundo, mas precisa colocar o guarda-sol assim em cima de todo mundo? Aqui é bom porque não tem tumulto e um monte de gente em volta de ti, tem um corredor de vento e ainda a visão do mar — afirma o veranista de Porto Alegre.
Há quem faça das dunas algo mais passageiro e suba para ver se consegue sinal melhor para uma ligação no celular ou prefira tirar fotos com uma vista panorâmica. Mas há também os maus exemplos de quem procura os espaços entre as elevações de areia para jogar lixo e fumar, deixando o cigarro por lá mesmo.
Do alto de um ponto que ele já quase podia chamar de seu — por ter ali passado 12 dos 15 dias em que esteve aproveitando as férias no Litoral Norte —, o trabalhador do setor calçadista José Souza lamenta apenas a sujeira no entorno das dunas. Ao olhar para baixo, ele consegue distinguir sacolas, roupas e até restos de um colchão entre os pequenos morros de areia. Por isso, prefere erguer o olhar e ficar observando apenas a faixa litorânea e o mar de um local privilegiado: sob os galhos de árvores que garantem uma agradável sombra mesmo próximo do meio-dia.
— Há cinco anos, não vinha para a praia, e quando vim descobri este lugar. É maravilhoso, não sei por que mais gente não prefere ficar aqui do que lá embaixo. Consigo aproveitar tudo da mesma maneira e nem preciso de guarda-sol. Só fica um pouco mais longe para me banhar, mas a vista e a sombra natural recompensam — garante o morador de Novo Hamburgo.
Tamanho sossego é uma realidade um pouco mais distante para Marieli e Felipe Gonçalves, na companhia do pequeno Henrique, dois anos, em Nova Tramandaí. Eles, porém, não se importam: durante a manhã, gostam de aproveitar a praia com o garoto na beira do mar e, ao final da tarde, correm para as dunas, onde encontram sombra e um local onde as crianças adoram se divertir.
— É uma brincadeira diferente e um lugar onde a gente consegue acompanhar o ritmo agitado dele sem tanta preocupação com o vento, com o mar — afirma Marieli, de Novo Hamburgo, aproveitando as férias em família no Litoral Norte.
No balneário Presidente, em Imbé, o aposentado José Antônio concorda:
— Subir e descer as dunas é o prato preferido deles — garante o morador de São Leopoldo, logo antes de correr atrás de duas crianças pequenas.
Mas, se na faixa de areia também é possível criar um pouco de sombra, com um guarda-sol, e brincar com os pequenos, por que optar pelas dunas?
— A vista daqui de cima é muito mais bonita, né? — diz Fernando Rothen, 17 anos, enquanto observa o mar sentado em uma duna ao lado dos primos Larissa, Eduarda e João Vitor.