O tradicional dindinho ganhou uma versão offroad neste veraneio. E não é nem 4x4, é 6x6. São dois caminhões militares de três eixos que pertenceram às Forças Armadas, foram a leilão e agora batem ponto em plena Avenida Emancipação, levando veranistas de hora em hora para uma aventura por trilhas pouco conhecidas do interior de Tramandaí.
A ideia foi de Paulo Souza, dono da empresa que já oferecia passeios em ônibus panorâmico e no chamado carrossauro, um caminhão com reboque para passageiros.
— Estou sempre pesquisando passeios turísticos Brasil afora e vi que outras cidades oferecendo trilhas com esses caminhões. São veículos que por si só chamam atenção — afirma.
Os dois veículos comprados por Souza foram produzidos no começo da década de 1980 pela Engesa, antiga indústria nacional de material bélico, e eram usados pelo Exército e pela Aeronáutica para transporte de tropas e equipamentos. Ganharam assentos confortáveis para carregar os veranistas, mas mantiveram o ar rústico e a pintura militares, o que dá um ar mais aventuresco ao passeio.
Para reforçar a ideia de que os passageiros estão prestes a embarcar em uma perigosa missão de guerra, os funcionários recebem-nos vestidos de soldados, com camisetas, calças e chapéus camuflados. Um final de tarde, na semana passada, Souza ficou intrigado com um dos empregados, que permanecia todo fardado, do outro lado da rua.
— No final, não era um funcionário, era um passageiro, que fez questão de vir a caráter para fazer a trilha — conta.
O roteiro, com duas horas de duração, tem como destino a chamada Aldeia da Lagoa, uma área para onde estava previsto um condomínio que nunca saiu do papel e que conserva um ar meio selvagem, à beira da Lagoa das Custódias, em Nova Tramandaí. Com a tropa de 20 turistas na carroceria, o veículo entra na mata e percorre trilhas que a maior parte dos veranistas nem suspeitam que existem.
— Estou com 67 anos e desde que tenho um ano de idade venho para Tramandaí no verão. É uma vida inteira, mas não conhecia esta zona. Depois de tantos anos, estou conhecendo uma coisa diferente. Fiquei encantada que ainda existe bastante natureza — comentou Marizabel Viezze, 67 anos, durante a trilha.
O marido dela, Álvaro, 72 anos, foi atraído pela experiência de embarcar num veículo militar, matando saudade do tempo em que serviu o Exército, em São Leopoldo, lá se vão mais de 50 anos.
— Como eu era da infantaria, não andava muito de caminhão, não. Era mais a pé mesmo. Mas cheguei a andar no caminhão QT, qualquer terreno, só que era menor — relembrou.
Adrenalina e diversão
Depois da entrada na mata, o motorista aciona a tração nas seis rodas e a aventura começa. O caminhão vence trechos de barro, de grama, de água, de pedra e de areia. Sobe montes e transpõe valos, roça árvores, margeia a lagoa e um arrozal, quase dá cavalinhos de pau no areal fofo. Cruza com jipes e outros veículos fora-de-estrada e, a certa altura, passa por um imponente pórtico em ruínas. Segue até às torres do Parque Eólico, mas pelo lado de trás.
A cada solavanco ou obstáculo ultrapassado, a soldadesca improvisada explode em gritos na carroceria. O ápice são os vários banhados que interrompem a trilha, alguns profundos, que o caminhão transpõe, espirrando água para todo o lado.
— É mais legal do que eu imaginava, principalmente pela água — disse Laline Gomes, 22, anos, de Caxias do Sul, que se aventurou na trilha com o namorado, Guilherme Merencio, 23.
Ao longo do percurso, os funcionários fazem brincadeiras, para aumentar a emoção. Diante de um respeitável barranco de areia, Paulo questiona, com ar preocupado:
— É aqui que atola sempre, soldado?
— Só quando não vira — responde o motorista, segurando o ar sério.
Wagner Nabarr, 33 anos, morador de Bom Retiro (SC), surpreendeu-se com as paisagens, mas gostou mesmo da explosão de adrenalina durante a rota.
— É uma aventura. Nunca tinha andando em um carro do Exército. Ele dá uma certa segurança. Não precisa ter medo. Mas é emocionante.
Paulo Souza adquiriu um terceiro caminhão do Exército, um REO, de fabricação americana, que pretende colocar em operação na próxima temporada. Também está preparando uma caminhonete da Engesa, com 10 lugares.
— Quero incrementar no ano que vem. A caminhonete vai buscar os passageiros nos hotéis. É um serviço que todas as grandes cidades têm — diz o empresário.
Serviço
Passeio Trilha Aldeia da Lagoa
Saídas: Avenida Emancipação, em Tramandaí, às 14h, 15h, 16h, 17h, 18h e 19h
Ingresso: R$ 25