Em uma sala ampla, envidraçada e climatizada, um grupo de mulheres entalha desenhos feitos por elas mesmas em pedaços de madeira. Coordenadas pelo artista e professor Paulo Chimendes, elas trabalham na madeira, aprendendo noções básicas de xilogravura. O curioso é que não estamos em um ateliê ou em uma escola de artes, mas na beira-mar de Atlântida, na sede da Sociedade Amigos do Balneário Atlântida (Saba), em Xangri-lá.
A oficina de xilogravura é apenas uma das atividades da programação cultural e social que o clube praiano oferece nesta temporada. Jantares, bate-papos, concursos literários, oficinas gastronômicas, colônia de férias e Carnaval infantil são algumas das ações promovidas para aproximar a Saba dos veranistas. A entidade caminha na contramão de parte dos clubes de praia, que hoje estão à míngua.
Criada em 1962, a Saba passou por uma reorganização em 2015, quando a diretoria percebeu que era preciso analisar o comportamento do mercado para construir ações capazes de manter o local fora da temporada.
— Hoje, a cultura de clube não é mais a mesma. Os condomínios mudaram o comportamento dos veranistas. As novas gerações têm outros hábitos — diz a consultora de RH Branca Adaime, mulher do presidente da Saba, Leandro Adaime.
Com o estudo, a gestão percebeu que deveria explorar a localização privilegiada, investindo em infraestrutura. Colocou mãos à obra e dedicou-se a reformar os salões da sede social, que garantem fonte de renda o ano todo com aluguéis para aniversários, formaturas e casamentos. Na área externa, as salas comerciais também são alugadas no veraneio, somando verbas para a manutenção anual. Ações abertas para o público em geral, como oficinas, palestras e atividades infantis, também são vistas como uma porta de entrada para novos frequentadores e associados.
— Nossa secretária geral e diretora cultural vem mantendo uma pasta cultural que tem tentado agregar para renovar o clube, trazer mais associados. Depois do planejamento, vimos necessidade de criar atrações para crianças. Aos sábados, por exemplo, tem a colônia de férias, aberta ao público geral, mediante pagamento de um valor simbólico — afirma Leandro Adaime.
— A ideia é trazer as crianças, porque elas serão os futuros gestores — completa a diretora cultural Laura Becker Fett.
A Saba ainda mantém sua sede campestre, que tem quadras de tênis, futebol, paddle, beach tênis e sauna. É de lá que vem outra parte da receita do clube. Um espaço é alugado para uma casa noturna, que teve o contrato de locação renovado por mais cinco anos, e outro sedia, há 23 anos, o Planeta Atlântida.
Além de locar suas áreas, o clube ainda conta com 560 sócios em dia, que pagam uma anuidade de R$ 700 cada. Esse valor dá direito a usufruir a estrutura do clube em qualquer estação.
— No verão, a sede mais usada é da beira-mar. Mas, no inverno, a sede campestre atrai mais por conta das quadras e pela excelência na estrutura — aponta o presidente da Saba, informando que, ainda em 2018, a ideia é repensar a piscina, tornando-a mais acessível para os diversos públicos e modernizando sua estrutura.
A cereja do bolo, que, segundo os diretores garante à Saba o título de "clube de verão o ano todo", é uma administração experiente, composta por nomes já reconhecidos por suas atividades à frente de clubes porto-alegrenses. O diretor financeiro, Carlos Alberto Pippi da Motta, por exemplo, já dirigiu o Grêmio Náutico União, enquanto a diretoria social fica a cargo de Cláudio Solano, responsável pelo economato da Associação Leopoldina Juvenil.
Em Tramandaí, transação imobiliária ajuda a revitalizar a SAT
A Sociedade Amigos de Tramandaí (SAT) encontrou em uma parceria uma forma de investir em infraestrutura. Depois de permutar parte do seu terreno para uma construtora, o clube equilibrou as contas e melhorar salas, salões e quadras. A negociação foi fechada em 2013. No mesmo ano, parte do clube foi colocada abaixo para a construção de um prédio de 18 andares, o Sat Residence.
— A negociação serviu para viabilizar as reformas que o cube estava precisando. Essa área quase não tinha uso. Era a região do restaurante, que o clube não mantinha havia tempos, mais um salão secundário e uma copa — explica o atual presidente, João Francisco Sacramento Filho.
Em contrapartida à entrega do terreno, o clube levou 20% de área construída, materiais de construção e serviços para a revitalização. Na prática, isso significou nove apartamentos e mais duas lojas comerciais, localizadas na parte externa do edifício.
Com o valor da venda de alguns apartamentos ainda na planta, mais os materiais de construção, foi possível restaurar tudo: salão principal, churrasqueiras, salões secundários (com cozinha totalmente equipada), ginásio poliesportivo (em fase de finalização) e academia (que conta com aparelhos de última geração).
— Mas não podemos deixar de lembrar da participação importantíssima dos associados, que perceberam que era vantajoso ser sócio. Hoje, estamos com 600 pagantes — destaca Sacramento.
A mensalidade para sócios da categoria família – que enquadra cônjuges e filhos menores de 18 anos – é de R$ 180 para usufruir das quadras, da piscina térmica (há aulas de natação e hidroginástica) e da academia. Os salões menores podem ser usados mediante agendamento e pagamento de uma taxa de limpeza.
Mais direcionada para o público morador de Tramandaí e praias vizinhas, a SAT começa, aos poucos, a retomar a agenda de eventos. Com o salão principal fechado para adequações do Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) em 2017, eventos tradicionais sofreram uma pausa. No entanto, já estão previstos para a temporada 2018 o Carnaval infantil e um jantar-baile de aniversário do clube, que completará 73 anos em 5 de fevereiro. A festa será na noite do dia 3.
Sacramento também cita a atuação do conselho do clube e a direção formada por representantes dos moradores da praia como pontos importantes para o fortalecimento do que vem sendo chamado de "Nova SAT". Uma das metas traçadas para 2018 é finalizar o ano com 700 associados.