Em fevereiro de 2016, Azu foi avistado no lago de um condomínio do Litoral Norte. Assustados, os moradores acionaram a Patrulha Ambiental da Brigada Militar que encaminhou o filhote de lontra até o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), em Imbé. Pesando apenas 550 gramas, o animal recebeu tratamento e alimentação – a cada duas horas – da equipe do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres e Marinhos (Ceram), onde vive até hoje.
Azu, apelido carinhoso do bichano que "AZUcrina" a vida dos tratadores, deu sorte. Agora, pesa cerca de nove quilos e recebe 700 gramas de peixe por turno. Também tem uma piscina particular coberta, uma bola cor de laranja e um amplo espaço de lazer pelo qual transita em um passo ligeiro e estabanado. Está tão adaptado com a presença humana que aprendeu a fazer uma espécie de gemido quando quer atenção. É quase um cão aquático.
De acordo com o médico veterinário do Ceram, Derek Blaese, esta espécie é muito comum pela região e pode ser encontrada em locais de água doce, como rios e lagos do Litoral. Um destes, inclusive, foi avistado em uma rua de Imbé no último dia cinco durante uma chuvarada que alagou algumas vias do município.
Assim como Azu, vários outros bichos são encaminhados para o Ceram após serem resgatados na orla gaúcha. O centro atende todo o Litoral Norte, de Torres a Palmares do Sul, e recebe, geralmente, animais capturados pela Patram.
Na última segunda-feira, uma tartaruga verde foi encontrada por veranistas em Capão Novo e levada até o Centro. Lá, ela vive em um tanque de água e recebe algas nas refeições que, até agora, só refugou.
Leia mais:
Águas-vivas voltam ao mar gaúcho: o que fazer em caso de queimadura
Brincar nas poças da areia oferece riscos para a saúde?
Baleia encalha na beira da praia em Imbé
– Tartarugas geralmente não comem na reabilitação – explica o veterinário.
Com 54 centímetros de casco e pesando 15 quilos, o animal ainda não teve o sexo definido e, pelas características, é jovem. Um adulto pode ter uma carapaça superior a 140 centímetros e pesar mais de 150 quilos.
Dentro d'água, sua posição causa estranheza: toda a lateral direita fica submersa, enquanto a esquerda fica para fora. Blaese afirma que isto dá pistas sobre o diagnóstico:
– Há uma suspeita de pneumonia.
Para confirmar o problema, a tartaruga será encaminhada ao Hospital Veterinário da UFRGS, em Porto Alegre, onde fará raio-x e exame de sangue. Qualquer animal tratado no local é tratado com medicamentos de uso veterinário ou humano, em doses cuidadosamente calculadas para atender a cada espécie.
Outro morador ilustre do Centro é um pinguim que foi resgatado entre os meses de setembro e outubro. Com uma ferida nas costas que atingiu até os músculos, a ave está em tratamento e já apresenta melhoras significativas. No entanto, ainda não pode voltar para seu habitat natural pois manca de uma patinha.
– Estes animais tendem a mascarar os problemas, pois na natureza eles viram um alvo fácil – completa Blaese.
Natural da Argentina, o pinguim pesa 3,5 quilos e é alimentado com porções de sardinha fresca. São 600 gramas a cada dia. Ao seu dispor também há uma piscina coberta e cercada de pedras claras. Um luxo.
Como o Ceram tem como objetivo tratar os bichos até que eles fiquem 100% saudáveis e depois devolvê-los à natureza ou encaminhá-los para zoológicos, nenhum animal recebe nome, apelido e sequer carinho – com exceção de Azu, que mora há quase um ano no local e é quase um mascote. O veterinário explica que isso acontece para que os animais não se adaptem aos humanos e sejam prejudicados em seus habitats.
Via de regra, todos os animais reabilitados são anilhados e devolvidos ao mesmo local onde foram resgatados.
Centro também aceita devolução de animais silvestres
Fora os animais marinhos, o Ceram também serve de hospital para aves e outros animais silvestres encontrados em situação de risco. Um falcão, uma caturrita sem asa, um bem-te-vi que teve uma das patas amputadas e uma ninhada de gambás órfãos também vivem no centro de reabilitação. Maior parte destes animais sofreu alguma agressão do homem para chegar neste estado. Os gambás, por exemplo, foram encontrados junto à mãe, que foi morta.
– Recebemos muitos gambás com lesões na coluna ou cabeça, pois as pessoas batem neles – lamenta o especialista.
Os filhotinhos, nascidos em setembro, medem menos de um palmo, vivem em uma caixa forrada com manta acrílica e têm pedaços de frutas à disposição.
Outro serviço prestado pelo Ceram é o recebimento de animais silvestres que são domesticados. Um exemplo são os tigres d'água, pequenas tartarugas que vivem na água e no solo, e que muitas vezes são criadas como animais de estimação. Apesar de a posse destes animais ser um crime, o centro os recebe sem nenhum ônus ao proprietário.
O que fazer se encontrar um animal silvestre na praia
Blaese adverte que, em muitos casos, os animais estão ali por não conseguirem mais viver na água, portanto, não se deve colocá-los de volta ao mar. A exceção são os lobos e leões marinhos, que costumam descansar na orla.
– Agora, se ele ficar ali por mais de um dia, é bom avisar a Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram) – orienta.
A presença de pinguins, tartarugas e até mesmo baleias na praia devem ser informadas à Patram mais próxima do local. O Ceclimar também pede que as pessoas enviem fotos do bicho através da página no Facebook ou por email para fauna-marinha@ufrgs.br .