É de recortes de jornais guardados ao longo da vida que o artista plástico Luiz Carlos Caetano tirou a inspiração para uma exposição inusitada em Capão da Canoa, no Litoral Norte. Imagens de guarda-sóis, banhistas ao mar e casinhas de salva-vidas eram suas preferidas e são tema de pinturas de Caê, como faz questão de ser chamado. Mas as guaritas não encontravam na tela e na tinta uma reprodução à altura das memórias que o artista de 71 anos tem de veraneios em Tramandaí e Cidreira. As casinhas esguias e coloridas eram quase tão fascinantes quanto o mar, e as bandeirinhas ao alto indicavam se daria praia naquele dia.
- As casinhas têm um glamour, são uma atração à parte. Quando percebi que tinha um volume grande de recortes de fotos, quis recuperar a história com réplicas - diz o artista.
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Caetano saiu catando pedaços de madeira, borracha e tocos pelos terrenos e marcenarias de Capão. Havia 10 anos que vivia na praia, período no qual mergulhou na arte. A mulher - acostumada com o exotismo do marido - mais de uma vez reclamou da chegada de entulho na casa.
- Cada vez que eu ia à farmácia ou ao supermercado, voltava cheio de material. A patroa já me olhava atravessado quando eu saía de carro - brinca.
O trabalho durou todo o 2015. O resultado é uma encantadora e saudosa coleção de pequenas guaritas. As 18 réplicas - com precisão nas pequenas boias, nos salva-vidas, nas escadas e na miniatura de bandeirinhas - recuperam 80 anos de mudanças na estrutura das casinhas do Rio Grande do Sul.
Está lá o primeiro modelo de vigia que se tem notícia no Estado, construído pela prefeitura de Osório no balneário de Santa Terezinha e em Capão da Canoa. Erguida em 1936, era uma rústica torre branca de seis metros de altura, com uma cobertura tão precária que deixou o primeiro salva-vidas gaúcho, Manoel Albino, cego de um olho em razão da luz solar, segundo o artista.
Aos poucos, as casinhas foram se tornando sensação nas praias. Eram onde as crianças queriam subir para ver o mar de um ângulo privilegiado, e os casais se escondiam para trocar carícias no final da tarde. Preocupadas com a água revolta, famílias buscavam ao redor das cabinas local seguro para descansar enquanto as crianças se banhavam. Não custou para que a prefeitura de Torres criasse uma charmosa plataforma para os salva-vidas, nos anos 1960, seduzindo veranistas a conhecer a cidade e tirar fotos com suas novíssimas câmeras Rolleiflex.
- As prefeituras passaram a disputar quem tinha a guarita mais bonita. E os veranistas de balneários mais caprichados adoravam cantar vantagem sobre os amigos de praias vizinhas - diz Caetano.
O trabalho de Caetano mostra a evolução das guaritas até a recente padronização, no modelo de madeira triangular em vermelho - material mais simples do que as estruturas de concreto e vigas de antigamente.
As poucas estruturas diferentes sobrevivem na Costa Doce, em praias como Itapuã e São Lourenço do Sul.