Não é apenas para os veranistas que os dias de sol, pouco vento e água clara registrados no Litoral Norte estão convidativos. As águas vivas também afluíram em peso para a orla neste início de temporada, mais numerosas que os argentinos.
Na manhã desta quarta-feira, que registrou 33ºC, os salva vidas das guaritas 77,76,75 e 74 de Capão da Canoa tiveram de cravar a bandeira de cor roxa, usada para delimitar os locais com infestação das mães d'água. Ao longo da extensão dos quatro postos de observação, foram mais de 60 ataques.
- Só durante a manhã foram mais de 30 ocorrências de queimaduras aqui na nossa guarita. Muitas delas, em crianças. Colocamos o aviso para alertar, mas mesmo assim as pessoas assumem o risco e entram no mar - contou o sargento José Alex Antunes, que fica de guarda no posto 75.
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Desde o verão passado, quando os ataques ardidos viraram rotina, muitos salva vidas mantêm nas guaritas garrafas de vinagre para distribuir aos banhistas que foram queimados.
- A garrafa de um litro de vinagre acabou rápido hoje. Distribuímos para todos que vêm pedir ajuda - contou o soldado Eduardo Jardim, da guarita 77.
Maria Eduarda Barbosa, de 12 anos, saiu da água aos prantos em direção à guarita 74 para pedir ajuda. A menina, natural de Lavras do Sul, está veraneando pela a primeira vez em Capão da Canoa com a família. Logo no primeiro banho de mar do ano, foi apanhada:
- Eu estava aproveitando o mar quando senti uma fisgada e depois uma ardência. Minhas duas pernas estão muito doloridas - contou, soluçando, enquanto aplicava uma compressa com vinagre dado por guarda-vidas.
Raquel Flores, 62 anos, estava animada para entrar na água, mas após ver o aviso em roxo, foi até a guarita 75 para pedir informações. Após as respostas, mudou de ideia.
- O mês de janeiro estava tão chuvoso, daí, quando abre esse tempo limpo, com mar na temperatura perfeita, aparecem esses bichos pra incomodar a gente. Desisti de dar um mergulho - contou, irritada, a aposentada.
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Desde o ano passado, a bandeira de cor roxa com os dizeres "Atenção: incidência de águas-vivas" é utilizada na beira-mar e indica aos banhistas a necessidade de cautela. A marcação é resultado de uma parceria entre Operação Golfinho e a universidade Feevale. Ainda não existe uma norma de como utilizar o sinal indicativo. Os guarda-vidas afirmaram que a região que tem mais de dois ataques já recebe a bandeira de alerta. Conforme o chefe das Operações dos Salva-Vidas da Brigada Militar, major Julimar Fortes, a bandeira ajudou no ano passado a conscientizar os veranistas:
- A incidência dos ataques é complicada de controlar, porque muitas pessoas que são atacadas não procuram os socorristas. Na questão da conscientização, o projeto deu certo porque mostra aos veranistas as áreas onde pode existir maior risco.
Como no último verão, os banhistas que sofrerem as ferroadas das medusas também são incentivados a responder a um questionário sobre a ocorrência. As respostas se transformam em dados que são tabulados pelo Centro de Pesquisa e Planejamento (CPP) da Feevale.
- Esse trabalho é importante para que possamos determinar o perfil das pessoas que se queimam e, também, o tipo de lesões. Desta forma, os salva-vidas terão estatísticas para poder agir preventivamente - explica o coordenador do CPP, Diego Martins de Assunção.
De acordo com Cariane Campos Trigo, bióloga do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), a presença das ameaças gelatinosas são comuns para esta época.
- As águas-vivas buscam águas quentes para se reproduzir. Quando o mar está límpido e não tão gelado, elas aparecem - diz a especialista.
O QUE FAZER SE FOR QUEIMADO
- Procure a guarita de salva-vidas mais próxima. Os salva-vidas farão o primeiro atendimento, aplicando vinagre sobre a queimadura para amenizar a ardência e evitar que o veneno se espalhe.
- Conforme a dimensão da lesão ou a reação alérgica da vítima, os salva-vidas orientam que se busque atendimento médico.
COMO REAGIR
Não pode
- Lavar com água corrente. A água doce faz com que o veneno se espalhe na pele. Lave com água do mar.
- Tirar os filamentos grudados na pele com a mão. Você corre o risco de se queimar ainda mais. Use pinça.
- Coçar. Passar areia então, nem pensar. São duas formas de espalhar os filamentos da mãe-d'água pela pele, aumentando a área da lesão.
- Pegar o animal da areia. As medusas podem estar vivas, mesmo que encalhadas na orla, e as células venenosas delas podem demorar horas para morrer.
Pode
- Passar vinagre na lesão. A composição do produto neutraliza a toxina.
- Fazer compressas de gelo. Embora água doce não seja recomendada, água em forma de gelo costuma aliviar a sensação de queimadura.
- Usar pasta d'água. A loção, encontrada nas farmácias, alivia a ardência na pele.