Assim como as melhores coisas da vida não são coisas (ou, pelo menos, é o que dizem), minhas melhores férias de verão nunca foram no verão. Nem foram férias.
Sempre fui amiga da água - é o que costumam dizer de quem nasce com o sol em signos aquáticos, não é? Cada verão em que eu, meu irmão e meus pais passávamos na praia, aproveitando cada dia de liberdade dos dois de seus empregos em redações, era composto de momentos preciosos. Era um daqueles momentos em que os olhos e os ouvidos aumentavam, como se querendo absorver tudo e mais um pouco.
No entanto, fascínio à parte, fui uma daquelas crianças consideradas "temperamentais" por parentes e professoras em geral. Era que, mesmo sem a noção consolidada, sempre tive a sensação de que tudo o que é demais cansa. E sim, isso incluía fazer coleção de peixinhos no balde, comer milho verde com manteiga, sal e areia e observar atentamente todos os movimentos das tatuíras (ah, as tatuíras). Nunca pude dizer que não queria que o verão acabasse jamais.
E, assim, depois de todos aqueles veraneios com a família em que a obrigação de bater o ponto no mar lavado de areia logo se tornava uma rotina levemente opressiva, desisti das temporadas de verão. Desisti da obrigação de encontrar um lugar na orla lotada para fincar o guarda-sol, desisti da obrigação de encarar o mar frio apenas porque sim. Desisti da praia como obrigação, já que, enfim, o mar iria se manter no mesmo lugar.
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E daí, quando tudo fica demais - coisas ruins como angústias relativas ao trabalho, o medo do futuro, o estresse compartilhado, o aperto no peito por uma razão qualquer, coisas boas como amor demais, amigos demais, tempo demais num final de semana longe do MEU emprego em uma redação -, daí é quando vou para o mar. Uma viagem impromptu, relâmpago. Um momento em que nada é obrigatório, nem o sol. Apenas a certeza de que, se tudo o que é demais cansa, o mar vai estar sempre no mesmo lugar. E vai continuar tão precioso quanto nos verões que passei com meus pais.