Retratado quando criança na Praia da Alegria, em Guaíba, o hoje deputado e ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho escreve para ZH na série Houve uma vez um verão:
Verão para mim, desde a infância, foi sinônimo de praia, casa dos avós e muita bola. Da mesma forma, o mar sempre representou um território proibido. Impressão que guardo até hoje.
Ficávamos esperando o Natal passar para arrumar as malas rumo à praia da Alegria, na casa de meus avós maternos, em Guaíba. Era um ritual sagrado. Janeiro e fevereiro, minha mãe, eu, minhas irmãs e meu primo nos mudávamos para a praia. Meu pai nos fazia companhia aos finais de semana. Era uma alegria só, pura diversão. Dava até para esquecer que Porto Alegre existia. Esses dois meses eram quase eternos e reservavam uma energia diferente, como uma viagem no tempo, onde só existia o momento, o agora, a bola e areia.
O mar. Este imenso mistério do qual só podia me aproximar acompanhado de meu pai ou de algum outro adulto. Este assunto não permitia negociação. Meu pai julgava perigoso, e as recomendações e reprimendas não tardavam. Então, ficou lá um tanto distante para mim.
Preferia a bola. Era futebol todos os dias, o dia inteiro. Parar para almoçar ou jantar era um sacrifício, um desperdício quase absoluto. Mas sobrava tempo para outras brincadeiras de menino com meu primo. Jogos inocentes onde incorporávamos nossos heróis da época, como Tarzan e outros mais.
Na adolescência, veraneamos em Cidreira e, depois, Xangri-lá. O nosso Litoral era o destino certo, não importava a praia, desde que tivesse futebol, churrasco e festa. Muita festa!!! Lembro-me de muitos carnavais passados em Cidreira junto aos amigos. Os interesses já se tinham ampliado, mas a bola continuava lá, sem perder o posto de majestade. Sempre ela em primeiro lugar.
O mar continuava distante. As lembranças de meu pai me fizeram sempre respeitar o mar. Ainda hoje posso dizer que é o mar lá e eu aqui. Somos quase estranhos um para o outro.
Acabei por transmitir isso aos meus três filhos. Diante das ondas, muito cuidado e respeito. Só o mais novo fugiu um pouco à regra e hoje se aventura em alguns esportes aquáticos.
Mas sempre fui um apreciador do som das ondas. Da luz própria que emana de seu movimento e que ilumina o céu durante a noite. Da melodia que tanto inspira artistas de todos os matizes.
É sem dúvida uma obra de Deus. Mas com todo o respeito: é ele lá e eu aqui