Projetada para as próximas décadas, a redução populacional no Rio Grande do Sul e no Brasil demandará mudanças na economia e reforço de políticas públicas para contornar a situação, dizem especialistas consultados por Zero Hora.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado atingirá o ápice populacional em 2026, com 11.233.317 habitantes.
Após o pico, é projetada queda para 9.102.614 em 2070, redução de 18,9%. Cenário similar é estimado para o Brasil, que atingirá o auge de habitantes em 2041.
A situação não representa um cenário de “pânico”, segundo Pedro Zuanazzi, diretor do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão.
Porém, mudanças devem ser consideradas para que o déficit populacional não cause prejuízo à qualidade de vida.
— Se aumenta o número de adultos jovens, a economia cresce por inércia, o trabalhador não precisa produzir mais para o país crescer. Não existe escapatória quando há menos jovens: para ter crescimento econômico, é preciso aumentar a produtividade. Esse será o desafio — pontua.
Zuanazzi acrescenta que o avanço na produção não significa explorar quem trabalha, e sim dar condições para o desenvolvimento. Investimento educacional e em tecnologias capazes de impulsionar os resultados econômicos devem ser as bases para o manejo do problema.
Ely Jose de Mattos, economista e professor da escola de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), acrescenta que a redução populacional pode levar à mudança na dinâmica econômica gaúcha e brasileira.
— Nossa economia é baseada em serviços. Precisaremos de mão de obra e não teremos, pois vai diminuir a oferta. O mercado não terá escolha e se tornará mais flexível com pessoas mais velhas. Mas há um limite, pois essas pessoas vão se aposentar, parte não vai querer trabalhar. Alguns podem nem conseguir se aposentar — projeta Mattos.
Para manter o tamanho da população, os países precisam de uma taxa de natalidade de 2,1 filhos por mulher. É uma quantidade distante da observada no RS, que tem 1,5 (taxa verificada entre 2010 e 2023).
É uma situação enfrentada há anos nos países desenvolvidos, que têm investido em medidas para incentivar casais a terem mais filhos. Rússia, Itália, França e Suécia são exemplos.
— A literatura mostra que dar condições para a mulher ter filhos sem se sentir prejudicada no mercado de trabalho é o que gera mais efeitos positivos. O Brasil já tem, de certa maneira, uma licença-maternidade robusta. Mas a nossa licença-paternidade, por exemplo, está aquém do que poderia ser. Melhorá-la é uma das ações que podem ser feitas — acrescenta Pedro Zuanazzi.
O professor da PUC afirma que a resolução do problema tem um empecilho: qualquer mudança motivada por uma política pública ocorrerá no longo prazo.
— Vamos supor uma "mudança de chave" de hoje para amanhã. Todas as escolas serão "tops", com uma educação sensacional. Ainda assim, vamos levar duas ou três décadas para começar, de fato, a colher os frutos. É algo sem solução de curto prazo, pois é um problema geracional — afirma Ely Jose de Mattos.