Em um presente desses que a vida volta e meia proporciona, eles nasceram no mesmo dia. Desde 2018, Leonardo Rudá da Silva Rosa Porciuncula, 35 anos, divide o aniversário com a filha, Clara Burille Porciuncula. Mas não apenas o 3 de junho que é compartilhado entre o "grude", ou “xerox”, como preferir. Ele é profissional de Educação Física e ela adora praticar atividades, como a ginástica artística. Desinibido, Leonardo decidiu atuar na área dos esportes coletivos. Mas, agora, é a pequena que rouba as atenções e adora sair falando por aí em microfones.
Com guarda compartilhada, o porto-alegrense, morador do bairro Tristeza, busca estar sempre presente na rotina da filha, exercendo a paternidade ativa. Costuma levar Clara para a escola, alterna finais de semana com ela, além de outros momentos do dia a dia. Mesmo assim, em seu sétimo Dia dos Pais, celebrado neste domingo (11), ele não se considera um "paizão".
— Na verdade, é pai. Acho que chamar de “paizão” acaba fazendo com que muitas mães sejam desvalorizadas. Me considero um pai presente, que não está fazendo mais do que a sua obrigação. A gente sabe que os perfis de cada um mudam, não precisa ser necessariamente “babão”, mas é questão de ser ativo. Ou, se preferirem, é “mãezona” e “paizão” — brinca, comentando sobre a importância de ambos os papéis na criação e citando a mãe de Clara, Evelyn Cariboni Burille.
Ao acompanhar as aulas de ginástica no Ipanema Sports, na zona sul de Porto Alegre, o professor dedica parte do tempo à menina. Em outras oportunidades, os companheiros vão ao estádio de futebol, assistem filmes no cinema e montam circuitos de atividade física pela casa. Leonardo, inclusive, já foi professor da filha.
— Eu sempre trabalhei com crianças, desde 2010, quando entrei na faculdade. E sempre me dei muito bem. Falavam que eu tinha jeito para ser pai. Fui professor da Clara em uma colônia de férias na Escola de Educação Infantil Bilíngue Portinari, onde atuo, e depois ela ficou um ano comigo na escola. Foi desafiador, porque as crianças têm muito carinho por mim e ela ficava meio enciumada de ter que dividir o pai — conta, entre risos.
Apesar da experiência profissional contribuir com a paternidade, Leonardo afirma que criar o próprio filho é diferente. Ele relata que sempre busca dar autonomia para que Clara vá assumindo pequenas responsabilidades. Ainda que mime a pequena de vez em quando, diz que procura proporcionar vivências para que ela trilhe o próprio caminho.
Educar o nosso filho é uma tarefa diária, de formiguinha.
LEONARDO RUDÁ DA SILVA ROSA PORCIUNCULA
Pai da Clara
— Educar o nosso filho é uma tarefa diária, de formiguinha. É uma responsabilidade tremenda ter no mundo outro ser que depende de ti. E sempre fui pelo exemplo. É o exemplo que arrasta. Procuro demonstrar as coisas para ela, como na enchente, em que separamos juntos kits de doação — relembra.
Se perguntado o que a Clara representa para ele, Leonardo responde sem pestanejar: tudo! O profissional destaca que amadureceu desde a chegada da filha, que é a sua motivação diária. Foca em compartilhar momentos e criar memórias afetivas, que considera o mais importante. Até nos penteados de cabelo, o pai se arrisca. Em resposta à dedicação, ganha um abraço de urso e um:
— Feliz Dia dos Pais! — com um largo sorriso e olhar de admiração.
Mudanças nos padrões de envolvimento paterno
De acordo com a professora do curso de Psicologia da Unisinos, Clarisse Mosmann, doutora na área e especialista em Terapia de Casal e Família, o que se vê atualmente é uma coexistência de padrões de envolvimento paterno. Há os núcleos considerados ainda mais tradicionais, mas existe um movimento de mudança na participação dos pais.
— Isso tudo iniciou quando as mulheres se inseriram no mercado de trabalho e deixaram de ter a maternidade como atuação exclusiva. Também se percebe uma menor participação das famílias em termos de rede de apoio, o que convoca os pais a esse envolvimento. O momento é de diversidade familiar, com diversas formas de se desenvolver a paternidade — esclarece.
A especialista ressalta que a paternidade ativa é 100% benéfica para os filhos, com pesquisas apontando que o contrário costuma gerar ressentimento. E o comprometimento do pai repercute em todo o ambiente familiar, já que as mães não ficam sobrecarregadas, há redução de conflitos e melhor desenvolvimento das crianças e adolescentes.
— No mundo ideal, as tarefas e cuidados são divididos. É o que chamamos de coparentalidade. Isso também faz com que os filhos aprendam pelo modelo. Quando veem os pais atuando como uma equipe, reproduzem esses comportamentos com os seus iguais. E o oposto também é verdadeiro. Nos momentos em que há altos níveis de conflito, acaba sendo levado pelas crianças — conclui.
Dicas que podem ser importantes para os pais, segundo a especialista
- Deixar que os filhos desenvolvam os próprios gostos e habilidades, sem colocar expectativas
- Conhecer os filhos, se interessar por coisas que eles gostam de verdade
- A comunicação segue fundamental, principalmente no sentido de escutar e acolher
- Tentar se aproxiamr dos filhos, conversar e compartilhar momentos que não se restrinjam tanto às telas
- Descobrir interesses em comum
- Buscar sempre ficar próximo, criar vínculos, pois a paternidade é um investimento constante