Agrupadas em filas, crianças ansiosas se apoiam nas pontas dos pés, uns nos ombros dos outros, se esticando para conferir se o boato que corria era verdade.
—Será que ele "tá" aí? — diziam, repetidamente, quase em uníssono.
Ao se aproximarem da sala de musicalização da Fundação Pão dos Pobres, na Cidade Baixa, os pequenos tiveram a confirmação da visita do Papai Noel na instituição, o que estampou sorrisos instantâneos nos rostos infantis. Dispostos em frente à porta, alguns colocavam as mãos na boca, sem acreditar que estavam diante do Bom Velhinho.
"Eu nunca tinha participado de algo parecido e fiquei muito contente de ter recebido o convite novamente. Foi muito emocionante"
MARCELO BORBA
Gerente comercial
Com a agenda cheia no fim de ano, o mais famoso morador da Lapônia recrutou um representante menos longevo. Aos 42 anos, Marcelo Borba, gerente comercial de imobiliária, pela segunda vez, entrega presentes de Natal pedidos em cartinhas escritas por crianças e adolescentes atendidos na entidade. Este ano, foram quase 200 correspondências.
— Eu nunca tinha participado de algo parecido e fiquei muito contente de ter recebido o convite novamente. Foi muito emocionante, eu estava torcendo para chegar esse dia porque foi uma experiência única — revela Borba, que foi tomado por sentimentos quando adotou a sua primeira cartinha, anos atrás, e leu as letras escritas por um menino em situação de vulnerabilidade social.
Atrás da poltrona do Noel, repousam os pacotes cheios de mimos, devidamente identificados com os nomes dos autores das cartas. Chama atenção a simplicidade nas sugestões de presentes, que vão de kits de material escolar a roupas. À medida que as crianças são chamadas por Borba, uma vibração toma conta do corredor: todos vibram com a felicidade de quem ganhou a sua caixa ou pacote.
A empresa na qual o Papai Noel trabalha, a Crédito Real, faz parcerias com entidades como a Pão dos Pobres para ações sociais, não só em épocas natalinas. O gerente diz perceber uma "chama desacreditada" nos semblantes de garotos e garotas que, muitas vezes, são esquecidos dentro de suas próprias vidas.
"O melhor Natal que já tive"
— Quando recebem nossa atenção e carinho, aquele momento se torna único e a invisibilidade vai embora. O que mais importa não é o presente em si, mas o sentimento de ser amado e protegido — se emociona Borba.
A afirmação do Bom Velhinho encarnado é explicitada nos saltos que a maioria dos presenteados dava depois de sair da sala. A frase "é o melhor Natal que já tive" é ouvida algumas vezes.
— Olha só! A bola de vôlei que tu tanto queria! — apontava uma menina para a melhor amiga.
—Não acredito, ganhei a minha mochila. E com caderno dentro — mostrava outro menino.
"O nosso lema é dar uma segunda oportunidade para quem não teve a primeira, e é isso o que nós fazemos todos os dias"
JOÃO ROCHA
Gerente da Fundação Pão dos Pobres
O calor que ensopava a vestimenta vermelha e a barba postiça branca de Borba não tirou sua disposição em nenhum momento.
Sabedor das dificuldades enfrentadas pela meninada atendida pela Pão dos Pobres, Marcelo Borba diz buscar, ao menos, naqueles poucos minutos de contato, um hiato na dolorosa realidade deles. Para ele, o encontro é especial justamente por não ser reconhecido. A solidariedade, para o Noel temporário, não tem vaidade.
Para o gerente da Fundação Pão dos Pobres, João Rocha, a entrega de presentes a partir das cartinhas de Natal é uma forma de revigorar os sonhos e as esperanças de crianças que perderam tudo, mas que ainda podem acreditar na vida.
—O nosso lema é dar uma segunda oportunidade para quem não teve a primeira, e é isso o que nós fazemos todos os dias, para 1,6 mil crianças e adolescentes.
Como ajudar
Fundação Pão dos Pobres
Endereço: Rua da República, 801, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre Fones: (51) 3433-6902 e (51) 3433-6900 Outros contatos: site, e-mail, Facebook e Instagram.