Quase toda semana chega uma mensagem privada no perfil do Instagram de Miréia Borges, 66 anos, com convites para jantar, tomar café, conhecê-la melhor. Ou então comentários sobre sua beleza, elogios a sua desenvoltura diante da câmera do celular. A influencer da terceira idade lê as tentativas de paquera na companhia do marido, com quem é casada há 45 anos.
— Olha esse aqui! — diverte-se ela, aos risos, mostrando os pretendentes.
Miréia posta sobre a rotina de muitos compromissos, a família, o look do dia, os lugares que visita. O escritório de seu amplo apartamento no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, tem uma caixa repleta de utensílios domésticos para divulgar: potes plásticos, esfregões, esponjas, vassouras, rodos. A pedagoga ainda ganha livros, cosméticos e pares de tênis, calçado que as marcas sabem que ela usa muito. Todos os "recebidos" são mostrados aos quase 18 mil seguidores.
— Eu influencio. Levo muito a sério o meu papel. Encaro isso como o meu trabalho — afirma Miréia, que é auxiliada nas demandas online por uma jornalista.
Miréia acaba sendo vista como conselheira. Os pedidos de ajuda mais frequentes se referem a problemas no casamento - em geral, as esposas reclamam do esfriamento da relação e de maridos pouco românticos - e com os filhos.
— Por isso que falo que ser influenciadora é uma coisa muito séria — repete Miréia, também apresentadora do podcast Idade Não É Documento.
— Digo que não sou psicóloga, mas converso. Acho importante as pessoas se sentirem acolhidas. Podendo, eu acolho — completa.
A influenciadora responde todas as mensagens que recebe, nem que seja apenas com um coraçãozinho ou um "joinha". Muito identificada com a faixa etária a partir de 60 anos, se tornou também referência de estilo para esse público. Ela já recebeu a foto de uma seguidora vestindo calça justa lhe perguntando o que achava. A mulher buscava a aprovação para o visual que o marido nunca autorizara.
— Quero mostrar que as mulheres de mais de 60 não precisam ficar em casa achando que o mundo acabou. Passo o dia correndo de um lado para o outro. Tem horrores de coisa que você pode fazer. Procuro passar para as pessoas, e para as mulheres principalmente, que a gente pode, não deve ter medo — justifica Miréia.
Melhora na autoestima
Com a mira em uma fatia de público parecida, a professora aposentada Beti Pietro, 65 anos, de Cruz Alta, conta ter se "achado" no Instagram. Pensando nos primeiros posts, de anos atrás, confidencia sentir certa vergonha, mas diz nunca ter deletado nada. Sua prioridade é dar dicas de moda e estilo para mulheres maduras, aproveitando os ensinamentos de um curso que fez. Há pouco, começou a investir também em conteúdos sobre envelhecimento ativo.
— Estou vendo que esse público precisa sair para não ficar na depressão. As pessoas precisam se relacionar mais, ter amigos da mesma idade. Não adianta uma jovem começar a fazer um lindo vídeo, uma linda propaganda, daí as velhas de mais de 60 não vão se identificar. Não tem como voltar lá para os 20, 30 anos. Nós vamos daqui para a frente — comenta Beti, que adora se maquiar e ir à academia.
À academia, a propósito, Beti já chega fazendo vídeo para postar em sua rede social. Quando começou como influencer, percebia a cara feia de muita gente. "Ai, lá vem ela", incomodavam-se alguns quando ela empunhava o celular para gravar ou fotografar.
— Era como se eu estivesse fazendo uma coisa ridícula. Falavam na minha cara. Eu dizia: "Não se preocupe que não vou mostrá-lo". Não parei, isso não conseguiu me barrar, me deixar triste, recolhida. Eu chego chegando mesmo — diz Beti.
No começo da vida digital, não foi tão simples. Beti conta que a postura atual foi sendo construída ao longo da jornada. A mulher expansiva que coloca o celular diante do rosto antes não posava para fotos de perfil.
— Eu era muito complexada. Me fortaleci interiormente, minha autoestima aumentou, gostei mais de mim. A mulher que vence suas próprias barreiras é uma mulher mais feliz. Tem perrengues, mas, se a gente está forte, cai, levanta, sacode a poeira. Que as mulheres se olhem no espelho e se reconheçam como únicas. Que sejam fortes — diz Beti.
A influenciadora do Interior gosta de firmar contratos longos com os parceiros comerciais. Já soma três anos com uma empresa de transporte e quatro com uma loja de móveis. Seu cardápio de marcas é sortido: propagandeia também artigos de cama, mesa e banho, roupas, joias e óculos.
— Exclusividade custa caro, e as pessoas gostam disso — define.
Se esbarra em alguma dificuldade com tecnologia, vai em busca de ajuda. Procura tutoriais no YouTube, assiste-os e anota o passo a passo em uma agenda. Ou então convida uma amiga mais jovem para tomar um café.
— Peço ajuda sem constrangimento. Não sofro — garante.
Casal viajante
Rômulo Freitas, 71 anos, forma com a companheira, Ivane Fávero, 54, o casal do perfil Viajante Maduro. Residentes em Garibaldi, na Serra, eles visitaram, só neste ano, Itália, Grécia, Áustria, República Tcheca, Polônia e Eslováquia, entre outros países. Rômulo brinca que, nesta dupla com mais de 88 mil seguidores no Instagram, Ivane, turismóloga e quem realmente comanda o perfil, é a "viajante", e ele, o "maduro", um simples acompanhante.
— Eu sou o que usufrui e também o modelo dela — graceja o aposentado e advogado tributarista.
Juntos desde 2009, os influenciadores começaram o projeto em 2016. Postam sobre os gostos pessoais, que, acreditam, agradam ao público da mesma faixa etária: cultura, museus, antiguidades, livrarias.
— Buscamos também fugir do lugar-comum, onde vai todo mundo. Preferimos, muitas vezes, ir para um lugar com um turismo mais dócil, não essa coisa tão agressiva — explica Rômulo, lembrando de um dia quente e superlotado na capital grega, Atenas.
A mensagem que o par tenta passar com as publicações é, segundo o advogado, a de que a vida é boa. Depois de muita dedicação aos filhos — são oito, somados os de ambos — e ao trabalho, os anos de maturidade passaram a ser focados, em grande parte, no prazer de conhecer novos destinos. Cada viagem também tem um ganho evidente para o casal.
— Existe um aumento da intensidade da relação — constata Rômulo.