Em meio a shoppings, prédios e parques urbanizados, ainda vive, em um apartamento na zona norte de Porto Alegre, a escrita à moda antiga. Seu fiel escudeiro é o professor Cláudio Miranda, que ensina caligrafia inglesa há 40 anos. Entre os calígrafos, esse é o mais popular dos estilos – sua história remete ao século 18, com a expansão comercial e o controle marítimo pela Inglaterra, que fizeram com que documentos com esse tipo de letra se tornassem conhecidos ao redor do mundo.
– Nós chamamos essa caligrafia de comercial inglesa, itálica. Ela veio depois da letra gótica, que era cheia de detalhes e feitas pelo clero, e era usada mais para o dia a dia, porque se precisava de uma letra de fácil comunicação, pela expansão das navegações. Mas, hoje, nem se faz mais. Se faz como dá e se agradece se der para entender – comenta Miranda, pontuando que a culpa da falta da caligrafia nas escolas não é dos professores, mas da falta de tempo e estímulo para esse trabalho.
Em uma pequena sala, o docente, que já teve uma escola de música e caligrafia na Rua Sarmento Leite, no Centro Histórico da Capital, guarda pastas com trabalhos de alunos, nanquim, bicos de pena e canetas-tinteiro. Nas folhas mostradas, figuram cartas e poesias escritas com letras bem desenhadas, inclinadas para a direita e cheias de curvas. Segundo o professor, não se trata de melhorar a forma do texto, mas, sim, de remodelá-la:
– Praticamente todos os meus alunos são adultos e, acredite se quiser, a metade é de professores. São pessoas que querem melhorar a letra, que tiveram problemas até dentro dos seus locais de trabalho porque têm a letra ilegível. Aqui, nós estruturamos a forma de escrita toda diferente do que se fazia antes, seguindo o padrão da comercial inglesa itálica.
Para Miranda, uma letra bonita confere credibilidade e elegância ao seu portador.
– Se tu chega aqui malvestida, usando chinelo, tu vai ser a mesma pessoa, mas isso não vai te dar muita credibilidade, lamentavelmente. Tu não precisa estar com roupas maravilhosas, mas decentemente vestida. Com a letra, é a mesma coisa. Antes de eu ler o texto, eu leio a letra. Uma letra bonita é agradável – resume o professor.
Para aprender caligrafia, o docente estima que, em três meses, o estudante já tem uma boa base. Mas vai depender do treino: como qualquer conhecimento, vai depender mais da dedicação do que do talento.