Para mostrar o impacto do ruído no cotidiano das pessoas, a Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica), em parceria com o ittPerformance, da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) promoveram nesta quarta-feira (26) uma intervenção urbana em Porto Alegre. A estátua do Laçador recebeu um protetor auricular. Segundo o movimento, a ideia é chamar a atenção para os efeitos nocivos dos barulhos na audição, saúde e qualidade de vida.
É comemorado nesta quarta-feira (26) o Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído. A data foi criada em 1996, nos Estados Unidos, pela agência de reabilitação auditiva League for the Hard of Hearing (LHH). Hoje a instituição é conhecida como Center for Hearing and Communication (CHC) — Centro de Audição e Comunicação, em português — e continua atendendo bebês, crianças, adultos e idosos com deficiência auditiva e surdos.
Nesse dia instituições da área promovem ações como realização de exames de audição gratuitos e oficinas de proteção auditiva. Na manhã desta quarta, um debate pautou o assunto no Campus Porto Alegre da Unisinos, com abordagens sobre poluição sonora, qualificação profissional e normas técnicas.
Engenheiro civil, professor da Unisinos e pesquisador do Instituto Tecnológico em Desempenho e Construção Civil da universidade (itt Performance), Rafael Ferreira Heissler observou, no painel, que o barulho urbano é produzido por carros, motos, ônibus, trens, metrô, avião e atividades das indústrias, como a indústria da construção civil. Segundo ele, foi feita uma medição do ruído no entorno do Laçador cujo resultou foi de 80 decibéis, sendo que o limite estipulado em normas técnicas é de 70 decibéis.
— Fizemos medição do ruído na frente do Laçador e lá deu 80 decibéis, ou seja, está 10 db acima, é um ruído considerado insalubre. E quando falamos de decibéis, não temos referência. Muito diferente de quando falamos sobre temperatura. A gente sabe que 30°C é quente e 10°C é frio. O foco do Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído é trazer a consciência sobre esses índices acústicos — explica Heissler.
Também presente no evento na Unisinos, o otorrinolaringologista e vice-presidente da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Joel Lavinsky frisou que ações de conscientização sobre o ruído tornam palpável um problema invisível.
— O ruído não é palpável e só vamos ver o efeito dele quando as sequelas estiverem instaladas. Daqui há 20, 30 anos, vamos ver um exército de surdos, que é toda essa geração com videogame e fones de ouvido o dia inteiro. Ações públicas de legislação de controle de exposição ao ruído são importantes. Mas precisamos de mais. Precisamos que os fabricantes de fones de ouvido também se coloquem. E na parte da construção civil, também precisamos de ações para que o ambiente de trabalho fique isolado do ruído, por exemplo — disse Lavinsky, que também é professor adjunto de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Os fones de ouvido são encarados como um dos fenômenos de maior risco para a audição, principalmente entre jovens, observa o médico.
— Estima-se que 16% dos jovens têm perda de audição, especialmente por causa dos fones de ouvido. Isso aumentou praticamente três vezes nos últimos dez anos. Esses aparelhos estão cada vez melhores, porque distorcem cada vez menos o som, ou seja, é possível colocar os fones em altos níveis de intensidade sonora sem distorção. Isso é um problema, porque acabam levando à perda de audição.
O resultado, alerta o médico, são sintomas como zumbido nos ouvidos, tontura, alteração na pressão arterial e prejuízos ao sono. Segundo Lavinsky, a perda de audição é irreversível e, nos jovens, pode causa atraso no desenvolvimento escolar, já que atrapalha o aprendizado. Ainda mais grave, a perda de audição é apontada como um dos fatores externos que podem contribuir para demências na velhice, como Alzheimer.
— Muito do Alzheimer é risco genético, herança familiar, mas as evidências mostram que o fator externo que mais contribui para o Alzheimer é a perda de audição — alerta Lavinsky.
A recomendação aos adeptos dos fones de ouvido é nunca passar da metade do volume máximo. Se a pessoa ao lado está conseguindo escutar os ruídos que emanam do aparelho, é porque os níveis recomendáveis foram ultrapassados.
O apoio institucional do evento é da Associação Riograndense dos Escritórios de Arquitetura (ASBEA), da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (Assogot), do Ministério Público do RS e do Sinduscon-RS.