O médico e comunicador gaúcho Abraão Winogron morreu na manhã desta segunda-feira (18), aos 76 anos. Ele tinha problemas cardíacos e faleceu enquanto dormia.
Winogron se tornou conhecido por unir a medicina e a comunicação, por meio do rádio e da TV. Apresentou o programa Medicina e Saúde, na Rádio Guaíba, por cerca de 30 anos, no qual trazia dicas de saúde para os ouvintes.
— Ele viveu a vida muito bem. Era apaixonado pela medicina e por comunicar para as pessoas a forma de ter uma saúde melhor. Foi um pioneiro da medicina nos meios de comunicação no Brasil, amava rádio, TV. Vamos levar para sempre esse bom exemplo, de tentar levar coisas boas para a sociedade — ressalta Alberto Kopittke.
Filho de Winogron, Kopittke só tomou conhecimento da paternidade depois de adulto. O médico, ao ver uma foto, em 2006, de Kopittke na companhia do então presidente Lula, percebeu a espantosa semelhança do rapaz consigo mesmo e concluiu que tinha um filho. O processo de reconhecimento da paternidade foi finalizado em 2012, quando Alberto acrescentou o sobrenome “Winogron” à sua certidão. Desde então, a dupla se tornou muito próxima.
— É uma história pouco comum, mas, independentemente de qualquer coisa, pudemos viver dez anos muito próximos. Deu tempo de ouvir muitas histórias boas e guardar o bom exemplo dele — afirma Kopittke, citando, entre as lembranças, relatos de Winogron sobre sua atuação como médico de guerra em Israel, nos anos 1970, e das ocasiões em que conheceu chefes de Estado como Fidel Castro, presidente de Cuba, e Golda Meir, primeira-ministra de Israel.
Kopittke, que possui trajetória política, recorda que o pai sempre dizia que os governos precisavam aprender a comunicar orientações sobre saúde para a população, de forma a prevenir doenças. Considera que sua insistência no assunto rendeu frutos – tornou-se conhecido pelos porto-alegrenses.
— Eu caminhava no Centro com ele, e as pessoas iam parando ele. Ele gostava muito dessa interação, ficava feliz de ver o retorno do trabalho — lembra o filho.
Além de Kopittke, Winogron deixa uma filha, Dana, que mora na Inglaterra, e duas neta, uma já nascida e outra por nascer.
Trajetória
A história de Abraão foi registrada no livro Médicos do Brasil – Histórias de Vidas Extraordinárias Dedicadas à Saúde , lançado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano, em 2016. Filho de Rosa Wengrover e Jaime Winogron, judeus poloneses que migraram para o Brasil na década de 1930, Abraão Winogron nasceu em 1946, no então distrito de Vila Áurea, no Rio Grande do Sul.
Com o sonho de se tornar médico, cursou o primeiro ano da graduação na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), mas por incentivo do pai prestou novamente o vestibular e passou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou em 1970. Durante a graduação, Winogron interessou-se pela área de cirurgia. Ainda no 5º ano do curso, foi aprovado em um concurso para Interno do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre (HPS). A convite, ele trabalhou também como médico no município de Viadutos, localizado próximo a sua cidade natal.
O médico especializou-se em ortopedia e, com a esposa Ana Maria Otoni Mesquita, foi morar em Israel no ano de 1972. Lá, chegou a vivenciar um conflito bélico e exercer seus conhecimentos da medicina para ajudar os feridos, quando tropas do Egito e da Síria cruzaram a linha de cessar-fogo no Sinai e nas colinas Golã, regiões que eram dominadas por Israel. No país, também realizou a residência médica em cirurgia no Hospital Hadássa, vinculado à Universidade Hebraica de Jerusalém.
Winogron retornou ao Brasil no mesmo ano da conclusão da residência, em 1977, e abriu um consultório de ortopedia em Porto Alegre. Ainda em Israel, foi convidado a ser correspondente da Rádio Guaíba, e também a redigir matérias para diversos veículos de comunicação nacionais, tornando-se uma referência na comunicação em assuntos de saúde.
Em sua carreira, ele também teve passagem pelo Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, atuando como diretor da instituição. Em 2006, recebeu o Prêmio Mário Rigatto da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, conferido a profissionais da área médica que tenham prestado relevantes serviços à saúde. Na ocasião, Winogron foi homenageado por seu pioneirismo na disseminação de informações relativos à saúde pelo rádio e pela TV.
Despedidas
O velório será aberto ao público. Está marcado para as 9h desta terça-feira (19) e ocorrerá no Cemitério Israelita Porto-Alegrense, na Rua Guilherme Schell, 315, bairro Santo Antônio. O enterro será no mesmo local, ao meio-dia.
Colaborou: Isabel Gomes